terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Papai-Noel foi criado pela Coca-Cola? Saiba origens do Natal

Fonte: Terra
O Papai-Noel é uma invenção da Coca-Cola?. Foto: Getty Images O Papai-Noel é uma invenção da Coca-Cola?
Foto: Getty Images


Papai-Noel, árvore, ceia e presentes. Chega a época do Natal e começamos a ver tudo isso em todo o lugar (e de vez em quando ouvimos falar de um tal de Cristo). Mas qual é a origem de todos esses símbolos? E da festa - quando e por que surgiu a comemoração do Natal? Segundo Pedro Paulo Funari, professor de história e arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a origem da comemoração e seus símbolos são muito mais pagãos que cristãos.
 
Por que 25 de dezembro?

Conforme Funari, o Natal é derivado de uma festa muito anterior ao cristianismo e ao calendário do ciclo solar. De acordo com o pesquisador, os pagãos comemoravam na época do solstício de inverno (o dia mais curto do ano e que, no hemisfério norte, ocorre no final de dezembro) porque os dias iriam começar a ficar mais longos. "É uma celebração que tem a ver com o calendário agrícola, originalmente. E, como todo calendário agrícola, ele está preocupado com a fertilidade do solo e a manutenção do ciclo da natureza", diz o professor.

Em Roma, essa data era associada ao deus Sol Invictus, já que após o dia mais curto do ano o sol volta a aparecer mais. Quanto ao cristianismo, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo só começou a ocorrer no século IV, quando o imperador Constantino deu fim à perseguição contra essa religião. Os religiosos então usam a comemoração pagã e a revestem com simbolismo cristão. Curiosamente, afirma o pesquisador, no final do mesmo século, como a Igreja ganha poder, ela passa a perseguir os pagãos que comemoravam a festa da forma original.
 
Troca de presentes

Segundo Funari, a troca de presentes é um ato comum a todos os povos, independente do capitalismo, por exemplo, ou de religião. Esse ato, desse ponto de vista, é muito mais ligado ao reforço de laços sociais entre as pessoas. No cristianismo, a troca foi associada simbolicamente aos reis magos, que teriam dado presentes de Jesus - em alguns países, como na Espanha, é comum dar presentes apenas no Dia de Reis.

Contudo, durante o século XX, a festa foi perdendo muitas de suas características religiosas (mas não todas) e hoje se apresenta de forma muito mais comercial. "Desvencilhou-se bastante da imagem original (religiosa) para que pessoas, países e povos não cristãos, como os japoneses, também sejam incentivados a ter troca de presentes nesse período", diz Funari, que lembra que muitas pessoas que não são religiosas e até ateus participam de festas de Natal.

"Na propaganda dos presentes em si, não aparece o Cristo, o Jesus. Aparece lá 'compre uma TV moderna', 'compre um aparelho celular'. Na propaganda desses produtos não aparece essa caracterização religiosa. (...) Sabendo-se que as pessoas têm como princípio o estreitamento de vínculos sociais em geral e dentro da família em especial, o capitalismo explorou isso, digamos assim, ao extremo."

Originalmente, afirma o pesquisador, a troca de presentes não estava ligada à tradição do Natal, pelo menos não à festa original. "A troca de presentes na escala moderna é uma invenção do capitalismo."
 
Ceia

A comida de Natal, por outro lado, era comum nas primeiras festas. Na ceia natalina era comum a carne assada porque esses pratos eram considerados mais sofisticados, mais caros, e serviam melhor para uma situação especial. O porco, assim como o peixe, era uma das carnes mais comuns.

O peru foi introduzido apenas no século XVI. A ave é originária das Américas e se popularizou rapidamente na elite da Europa quando foi levada ao continente. Por ser mais caro, o peru virou a carne das grandes ocasiões.
 
Papai-Noel

Funari afirma que o homem chamado Nicolau que viveu na Antiguidade e que virou santo não tem nada a ver com o Papai-Noel, apesar de muitas versões dizerem isso. A figura tem origem em tradições germânicas e nórdicas. O protestantismo, que buscava um simbolismo diferente da comemoração católica - que enfatizava a figura do presépio - utilizou o personagem.

Já a imagem que conhecemos do Papai-Noel tem uma origem muito mais comercial. A figura de um velhinho com roupa vermelha e branca foi criada e difundida pela publicidade da Coca-Cola no século XIX.

"A gente pode dizer que o Papai-Noel como a figura que a gente conhece é uma invenção da Coca-Cola e dos meios de comunicação de massa", diz o pesquisador. O papel da mídia, afirma Funari, foi difundir essa imagem. O cinema e outros meios trouxeram a imagem criada pelos publicitários ao Brasil.

"Se você for olhar os jornais brasileiros do início do século XX, no período do Natal, você encontrará referências ao presépio(...) não se fala em Papai-Noel", diz o pesquisador, que lembra que nos dias atuais o presépio praticamente sumiu dos meios de comunicação.
 
O pinheiro

A origem do pinheiro é bem parecida: era uma figura germânica e nórdica que foi absorvida pelo protestantismo. Aqui, a decoração chegou com influência principalmente do cinema - apesar de não ter tido um patrocínio de peso, como teve Papai-Noel. Para o pesquisador, os símbolos atuais do Natal foram tão importados quanto o Halloween, do qual muita gente reclama.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

12 Motivos para casar com um Historiador


Por que eu achei divertida a idéia hahahaha.



1. Nunca vai faltar assunto.
Historiador sempre tem uma história pra contar, é legal quando você tem um “figura” do seu lado que tem a cabeça ampla pra as mais diferentes conversas, assuntos, papos, e uma opinião formada mesmo daquilo, ele nunca terá problemas em ser “social” mesmo que seja tímido, tem papo pra tudo.
O único problema é quando o historiador contrariar sua família toda naquele almoço de domingo dizendo que tudo que todo mundo disse tá absolutamente errado e estragar o almoço err…

2. Ele dificilmente irá julgar sua família, amigos, etc…
Estudamos todo tipo de civilizações e forma de viver dos seres humanos, então é mais fácil a gente se surpreender com eventos naturais óbvios do que com os “complexos” seres humanos, pra estudar todo tipo de forma de vida de um ser humano é necessário tentar compreender aquele estilo de vida.
Também jamais irá julgar você pela aparência, ainda mais se ele for fã da teoria da sociedade da imagem.
Então, por consequência quebramos preconceitos, se você namora um historiador fica tranquilo quanto a aquele primo anti-cristo, aquele amigo esquisito, normalmente nunca será julgado, agora quanto a parte de tirar sarro, er não garanto.

3. Todo tipo de regra imposta o historiador normalmente não dá a mínima.
Então se sua preocupação era quanto a onde vai ser o casamento, se você foi “crismada” ou não, que seja, pro historiador é o de menos, ele se importa com tudo menos com os esteriótipos, isso se ele não tiver uma alergia a catolicismo, então naturalmente o importante é que a união dê certo, então ele fará de tudo para que a união mesmo dê certo e dificilmente irá se importar com o preconceito do povo.

4. Se você acredita em outras vidas, o historiador já está pagando sua dívida.
Porque provavelmente ele é professor, então todos os atos ruins da vida passada provavelmente ele já está resgatando como uma boa pessoa.

5. Você será trocado, mas fique tranquilo.
Será no máximo por um livro do Karl Marx ou do Max Weber.

6. No natal, aniversário, dia dos namorados, etc, você não terá problemas em presenteá-lo.
Você sabe que se você der aquele livro que ele tava querendo DAQUELE AUTOR que ele adora provavelmente ele vai ter orgasmos múltiplos de felicidade.
Ou então dê uma estatuazinha do deus Osíris, ou de Afrodite, qualquer coisa relacionada a mitologia que vai ter um ar de “uma pessoa que ama história mora por aqui” também é legal.

7. Ele tem pose de nerd mas isso não quer dizer que seja um.
E principalmente não quer dizer que ele seja certinho, quanto mais se estuda a humanidade menos afim de ser correto nos padrões da sociedade você fica, ele pode ser um capeta, mas tem aquela cara de pessoa certinha e esforçada, o que te poupa explicações, e ele sabe muito bem o que é ridículo pra sociedade e vai te poupar de certas vergonhas alheias.

8. Até os programas de índio vão ser interessantes pra ele.
Nada mais legal do que sentir na pele o que é ser uma sociedade livre do estado, sem regras, sem leis, sem naaada.

10. Não sabe em quem votar na eleição, pede um palpite pra ele!
Só não espere que ele vá sugerir que você vote em partido de direita, aliás se você votar em partido de direita será um motivo pra união ser questionada.

11. Ele pode parecer revoltado, anarquista, socialista, mas no fundo ele só quer o bem de todos.
Então você jamais estará do lado de uma pessoa individualista, pois como estudante de humanas ele sempre pensará no todo e não somente nele mesmo.


12. Quanto mais você estuda, mais medo de falar bobagem você tem.
Então pode contar com ele na hora de jogar na roda aquele assunto difícil, aquela lavação de roupa suja, normalmente ele vai ser bem cauteloso com as palavras, a não ser que você tenha testado demais o santo dele, ai eu já não garanto afinal, fazer história não é como fazer letras não é minha gente?

terça-feira, 29 de novembro de 2011


 
O Brasil fugiu da escola - “Meninos e meninas tendem a ser alegres e curiosos, em qualquer parte do mundo. Mas, quando as caras feias e brigas se repetem, impedindo a felicidade do jogo de ensinar e aprender, a inocência do riso satisfeito com o mundo, algo está muito errado e preocupante. Nosso futuro encontra-se em situação de vulnerabilidade e risco. À revelia da classe professoral, muitos dos alunos teimam em não aprender e insistem em carnavalizar a aula, outrora sagrada”, ressalta o professor doutor Sérgio Kodato, autor de "O Brasil fugiu da escola".
Com a intenção de sensibilizar o leitor e engajá-lo no ideal que abraçou – a atualização e o aprimoramento do ensino público –, Kodato optou por uma abordagem direta, elencando observações a partir do que ocorre nas salas de aula, onde um número excessivo de alunos recebe educação deficiente, ministrada por professores mal remunerados e, na maior parte das vezes, desmotivados e despreparados para o exercício da profissão. Certo das potencialidades do ser humano – alheias à sua condição étnica ou social –, Kodato retrata, em "O Brasil fugiu da escola", a ausência de diretrizes e práticas voltadas para o seu despertar, ao mesmo tempo em que aponta soluções para revitalizar a vida escolar.
 
Sérgio Kodato - Graduado em Psicologia, mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Professor doutor no campus da USP de Ribeirão Preto (SP), é docente.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cientistas acham nova referência maia ao 'fim do mundo' em 2012

Cientistas acham nova referência maia ao 'fim do mundo' em 2012


Texto foi encontrado no templo de Comalcalco . Foto: Divulgação Texto foi encontrado no templo de Comalcalco
Foto: Divulgação

Arqueólogos mexicanos descobriram a segunda referência ao "fim do mundo" que teria sido previsto pelos maias e que ocorreria em 2012. Até agora, especialistas afirmavam que havia apenas um achado que mostrava o fim do calendário do povo antigo. As informações são da agência AP.


Em um comunicado, o Instituto Nacional de Arqueologia do México anuncia um debate sobre o assunto e admite existir uma segunda referência ao fim do calendário, um tijolo descoberto no templo de Comalcalco. O achado, afirma Arturo Mendez, representante do instituto, foi descoberto há alguns anos e foi submetido a um estudo completo, mas está guardado e não é exibido ao público.
Contudo, entre os cientistas, há dúvida se o objeto realmente tem relação com o "fim do mundo" maia. "Alguns propuseram que é outra referência a 2012, mas eu não estou nem um pouco convencido", diz à agência David Stuart, especialista em epigrafia maia da Universidade do Texas.
A data no texto descoberto bateria com o fim do 13º Baktun - ciclo maia que se encerraria em 21 de dezembro de 2012. Contudo, Stuart diz que pode corresponder apenas a alguma data similar no passado. "Não há razão para não achar que possa também ser uma data antiga, descrevendo algum evento histórico importante no período Clássico. Na verdade, o terceiro glifo no tijolo aparentemente deve ser lido como o verbo 'huli', 'ele/ela chega'", diz o pesquisador.
"Não há verbo no futuro (ao contrário da inscrição de Tortuguero - a primeira descoberta), o que, do meu ponto de vista, coloca a data de Comalcalco mais como uma referência histórica do que profética", afirma o cientista.
Ambas as inscrições - Tortuguero e o tijolo de Comalcalco - teriam sido criadas aproximadamente há 1,3 mil anos atrás. A primeira descreve algo relacionado ao deus Bolon Yokte (associado à guerra e à criação) em 2012, mas erosão e um rachado na pedra impedem a leitura do final da passagem, mas alguns cientistas acreditam que diga "ele irá descer dos céus". Ainda de acordo com a agência, no texto de Comalcalco os símbolos estariam invertidos ou cobertos com estuque, o que indicaria - por quem o escreveu - que eles não devem ser vistos.
O instituto mexicano afirma que a ideia de fim do mundo em 2012 é apenas uma interpretação mal feita do calendário maia. Segundo os arqueólogos mexicanos, o tempo para o povo antigo era divido em longos ciclos e o texto de Tortuguero apenas indica o fim de uma era e o começo de outra.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Confusão entre público e privado é uma das principais causas do caos urbano

Fábio de Castro, especial para a Agência USP

Socióloga demonstra em estudo sobre o comportamento no trânsito que ambiente coletivo é hostil devido a fatores como a cidadania precária do brasileiro e a tendência mundial de privatização do espaço público

Um estudo sobre o comportamento no trânsito da cidade de São Paulo revelou, entre outras conclusões, que a atitude geral das pessoas, baseada em noções privatizadoras do espaço público, é um fator que contribui decisivamente para o caos urbano.

Para saber como as pessoas se portavam no trânsito, a socióloga Alessandra Olivato realizou uma série de entrevistas com usuários do trânsito, divididos em cinco categorias: pedestres, motoboys e motoristas de carros, ônibus e táxis. A pesquisa foi a base de sua dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

"Eu pretendia estudar o espaço público e logo no início percebi que um dos campos de pesquisa mais reveladores deste tema era o trânsito nas metrópoles", explica. Durante três meses ela gravou entrevistas qualitativas (com respostas não estimuladas) de cerca de quarenta minutos em diversos pontos da cidade de São Paulo.

As perguntas básicas tratavam de como cada um via a si mesmo no trânsito, enquanto motorista ou pedestre, como viam os outros, como percebiam as leis e as autoridades, como concebiam o trânsito e como se sentiam nele.

"Depois de transcritas e analisadas, as entrevistas levaram a três conclusões principais: não existe uma noção clara de espaço público no trânsito, com as pessoas tratando a coisa pública como privada; expressa-se um individualismo provavelmente derivado de que a luta individual pela sobrevivência, no mundo atual, contribui para dificultar a compreensão do que é do outro; e, justificando a ausência de um sentimento de responsabilidade pelo coletivo, não há uma idéia generalizada da direção defensiva cuja premissa é prever o que acontecerá no trânsito", diz Alessandra.

Segundo ela, a primeira conclusão corrobora teorias clássicas da sociologia brasileira segundo as quais existe uma confusão entre o espaço público e o privado no país. "Junta-se um fator histórico nacional com a tendência mundial de privatização do espaço público. O resultado é que cada um tem seu motivo pessoal para não respeitar as leis e a organização coletiva. Considera-se injustas as leis, representadas pelos fiscais do trânsito, que não entende o motivo particular de cada um para burlá-la", resume.

Lugar do cidadão
A pesquisadora define "espaço público" como "o lugar do cidadão". Mas as entrevistas revelam uma noção de cidadania precária. "Temos um sentimento negativo com relação a ser cidadão. Quando estamos no espaço público temos um atitude de confronto e competição."

Para Alessandra, a noção de que no trânsito todos são cidadãos e por isso devem se respeitar e zelar pelo bem comum é dificultada pela conjunção entre uma moral privada e o surgimento de "muros invisíveis" entre as pessoas. Essa barreira é resultado de um novo individualismo, caracterizado pela sensação generalizada de que cada um é o único responsável por si.

A pesquisa levou também à conclusão de que não existe uma noção de direção defensiva. Nessa lógica, cruzam-se os sinais vermelhos e causam-se acidentes, dando-se depois a desculpa de que não foi possível prever o que aconteceria. "A formação do motorista ainda é majoritariamente técnica. Não se aprende noções de civilidade que englobe a percepção do espaço público."

Alessandra destaca que na interpretação dos dados obtidos nota-se que o pedestre, por exemplo, é visto como um obstáculo, já que o trânsito é um local de passagem que é preciso transpor o mais rápido possível. As leis são lembradas pela maioria apenas como fator coercitivo, quando há a presença de autoridades, radares ou placas. "A percepção da maioria é de que a lei é injusta. A lei não funciona como princípio máximo e sempre há um motivo pessoal que justifique a inocência do infrator."

A pesquisa revelou ainda que poucos motoristas dizem fazer esforço para "respeitar o próximo" e "não causar acidentes". "Os poucos que disseram fazer tal esforço não o vêm como atitude de civilidade. Dizem agir corretamente porque têm uma boa educação familiar ou por características pessoais. O respeito é fruto de um extremo sacrifício pessoal e não de atitude própria de convivência no espaço público."

Segundo a socióloga, especialistas garantem que o fator humano é responsável por cerca de até 90% dos acidentes de trânsito. "A intenção do trabalho foi discutir o trânsito por meio do fator humano. Estudar o problema empírico, mas avaliando a contribuição do motorista para a situação caótica, além de avaliar a percepção do espaço público e civilidade".

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ocupação patética, reação tenebrosa

Matheus Pichonelli

09.11.2011 11:57

Ao que tudo indica, a ocupação da reitoria da USP foi de fato patrocinada por um grupo de aloprados, que atropelou o rito das assembleias realizadas até então e, num ato de desespero (calculado?), fez rolar morro abaixo uma pedra que, aos trancos, deveria ser endereçada para pontos mais altos da discussão.
A tropa de choque entra em ação, a sociedade aplaude. Foto: Milton Jung/Flickr

Uma vez que essa pedra rolou, como se viu, tudo desandou. Absolutamente tudo, o que se nota pela declaração do ministro-candidato-a-prefeito (algo como: bater em viciado pode, em estudante, não) e do governador (vamos dar aula de democracia para esses safadinhos), passando pela atitude da própria polícia (tão aplaudida como o caveirão do Bope que arrebenta favelas), de cinegrafistas (ávidos por flagrar os “marginais” de camiseta GAP) e de muitos, mas muitos mesmo, cidadãos que só esperavam o ataque aéreo dos japoneses em Pearl Harbor para, em nome da legalidade, arremessar suas bombas atômicas sobre Hiroshima.

O episódio, em si isolado, é sintomático em vários aspectos. Primeiro porque mostra que, como outros temas-tabus (questão agrária, aborto…), a discussão sobre a rebeldia estudantil é hoje um convite para o enterro do bom senso. O episódio foi, em todos os seus atos, uma demonstração do que o filósofo e professor da USP Vladimir Safatle chama de pensamento binário do debate nacional – segundo o qual a mente humana, como computadores pré-programados, só suporta a composição “zero” ou “um”. Ou seja: estamos condicionados a um debate que só serve para dividir os argumentos em “a favor” ou “contra”, “aliado” ou “inimigo”.

De um lado, uma minoria de estudantes que, sim, usa a universidade para o que há de pior na vida pública, como politicagem e ignorância sobre noções básicas de convivência; e que, queira ela ou não, atrai uma nuvem de antipatia dentro da comunidade acadêmica e da opinião pública que contamina qualquer avanço ou reivindicação séria, legítima e bem costurada pelos estudantes de fato.

Do outro, uma parcela da opinião pública que jamais suportou qualquer sinal de organização política – seja estudantil, sindical, partidária – e que viu no episódio um pretexto para colocar as garras de fora, cuspir sua raiva e taxar os estudantes, qualquer um que fosse contra a presença da PM no campus, de baderneiro, vagabundo, privilegiado, filhinho de papai, maconheiro e inútil. Porque bater em estudante com o argumento de que não trabalha e, sob as asas dos pais, ainda não sabe como a vida prática é dura é o mais fácil e covarde dos argumentos (como se só os pais de família, que pagam impostos e vão à missa, reunissem as condições necessárias para se graduar em cidadania para reclamar da vida).
Cerca de 500 estudantes protestaram contra a detenção de colegas. Foto: Natália Natarelli

A ocupação da reitoria da maior universidade do País deu munição para que boa parte da opinião pública (inclusive estudantes) testemunhasse, graças à transmissão ao vivo das emissoras, a legitimação de seus desprezos contra estudantes que, diferentemente deles, ainda ousam apontam o dedo para o alto e dizer que alguma coisa está errada.

Originários de uma multidão crescida sob o mito do self made man (“minhas conquistas são fruto do meu próprio trabalho, e o Estado muito ajuda quando não me atrapalha”), muitos usaram canais de manifestação, como as redes sociais, para despejar os argumentos mais covardes contra todo (todo mesmo) universo estudantil, sobretudo o sistema público de ensino, do “bem feito” ao “viva a legalidade”. Como se os ritos democráticos tivessem sido respeitados desde o começo, quando o então governador José Serra (PSDB) decidiu justamente desprezar a vontade da comunidade acadêmica e nomear João Grandino Rodas, o segundo candidato mais votado, para o cargo. Como se fosse legítimo, também, determinar, de cima para baixo, que a Polícia Militar transferisse para o campus o seu modus operandi. Hoje a bronca, gota d’água de toda a crise, foi por não se poder fumar maconha em paz – sim, é uma discussão menor num país de tantos problemas; sim, pode revelar um desnecessário privilégio a um grupo que não é inimputável; mas sim (e é bom lembrar), existe, e não só na comunidade estudantil, uma questão em torno da descriminalização da droga, que é aceita inclusive em marchas na Paulista.
A praça do relógio, símbolo da cidade universitária. Foto: Vismar

Mas, em meio às manifestações contrárias aos invasores (que, sim, sabem o que fazem e não poderia descumprir decisão judicial), o que mais estranha não é ver senhores engravatados, os tais cidadãos que trabalham e pagam impostos, pedindo punição exemplar aos “aloprados”. Estes estão preocupados demais em manter o estado das coisas exatamente como está: assim como a polícia é útil na saída da favela, é útil também que ela tome conta de qualquer, mas qualquer mesmo, insurgência estudantil. Para a reitoria, o governador e os empresários que querem se apropriar do espaço público para obter lucros privados, parece mais que óbvio o interesse em deslegitimar não só ocupações estapafúrdias, como foi o caso, mas também esmagar a voz, quiçá para sempre, do movimento estudantil. (“Já pensou se eles, como os sem-terra, em vez de se dividir, resolvem se unir para ir às ruas, pedir condições melhores de vida e de trabalho e, mais tarde, entram no mercado do trabalho já contaminados com ideias subversivas, entre elas a de que a vida não se resume a dinheiro?”).
Força Tática em frente a reitoria. Foto: Milton Jung/Flickr

O que é estranho dessas reações todas de ojeriza aos uspianos é que elas partem de quem muito cedo na vida já se apropriou do discurso dos pais, criados num clima de “Brasil: Ame-o ou Deixo-o” herdado do regime militar; e que, portanto, veem na obediência, no não-engajamento, na docilidade, na adaptação a um mundo já pronto o único caminho possível para salvar as próprias peles em um jogo arbitrário de saída. Tenho, para isso, uma tese de botequim: a de que minha geração, nascida em meados dos anos 80 e criada nos 90, foi o maior baby boom de bundões que o Brasil já testemunhou; crescemos com medo da violência, das doenças sexualmente transmissíveis e do outro (do favelado ao muçulmano) e, por este motivo, decidimos nos enclausurar em bolsões de segurança (o shopping, a escola particular e os condomínios fechados) para poder nascer e morrer em paz, sem grandes objetivos na vida a não ser aceitá-la. Por isso aceitamos abrir mão de uma relativa liberdade (porque ela nunca é absoluta) para viver em segurança. E se amanhã algum policial resolver matar algum suspeito (ela chama de “meliante”) entre uma aula e outra na FFLCH ou na FEA, paciência, bola pra frente. Faz parte do jogo. Em nome da segurança, aceitamos a diferença de forças em jogo: estudante, quando alopra, compra cerveja e depreda a reitoria; policial, quando alopra, atira. (Em tempo: nem todos os policiais abusam, como nem todos os estudantes invadem; mas a diferença dos estragos proporcionados entre os que, por lei, detêm o monopólio da violência e os que não o detêm é abissal).

O caso de um aluno da faculdade de ciências sociais – curso visto por parte da elite paulista como ponto de irradiação de tumulto tal qual uma ogiva de Mahmoud Ahmadinejad – exemplifica a situação criada com a simples presença da PM no campus: em menos de um ano, já foi abordado cinco vezes por policiais.

Suspeito de quê não se sabe, e não está cientificamente provada se há perseguição pelo fato de ser negro, mas uma amiga dele, branca, relata: já ouviu de um policial que poderia ser liberada porque não tinha o “perfil” de marginal.
Policiais prendem estudantes que ocupavam reitoria da USP. Foto: Milton Jung/Flickr

Uns aceitam a situação. Outros, pelos métodos certos ou não, resolveram deixar claro que não aceitam.

Tudo isso me leva a dizer que eu nutria uma simpatia, ainda que leve, levíssima, aos ingênuos invasores que erraram a hora pensando que faziam história – até começarem a agredir os repórteres que estavam lá para ouvi-los. Mesmo assim, ainda parecem ser mais interessantes do que os coxinhas que, vestidos como os pais, esquecem que um dia foram estudantes e que um dia também pensaram que poderiam mudar o mundo. Hoje, engolem lama, agradecem quando lhe chutam as cabeças e dormem pensando ser coerentes aos seus princípios. Ou, como na música, “caminham para a morte pensando em vencer na vida”.

Critique-se o quanto quiser a partidarização de parte do movimento, mas são os estudantes os agentes de uma história que ainda somam coragem e disposição para se organizar e promover discussões e manifestações que, via de regra, apontam caminhos não observáveis por quem, a olhos nus, está atolado nas funções diárias da divisão social do trabalho. O empregado tem medo da greve e de perder o emprego; o patrão tem medo de perder o lucro; o governador, o medo de perder poder. Mas os estudantes estão, em tese, livres das amarras que os impediriam de simplesmente optar por outros caminhos. Isso não deveria ser vergonhoso, nem apontado como privilégio.

O fato é que o rótulo (e a imagem do invasor vestindo GAP) pegou bem aos que tem alergia a organizações sociais. Legalidade, insegurança, hipocrisia, racismo, perseguição (ou mania de), erros táticos, partidarização, elitização do ensino, espetacularização da notícia, truculência, tensão…São muitos os ingredientes que fazem do confronto entre estudantes e reitoria/governo paulista um tema complexo, que não poderia jamais descambar para o Fla-Flu. Mas descambou, graças à ação desastrada de um grupo que, agora, se coloca como “perseguidos políticos” – e virou tema de piada, ou pólvora pura, para um galão de gasolina reservado por quem nunca deu a mínima para ideias como coletividade, bom senso e democracia.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Exposição arqueológica sobre os Maia em Bogotá

Exposição arqueológica sobre os Maias em BogotFim do mundo previsto pelos maias é um erro de interpretação



 
O prognóstico maia do fim do mundo foi um erro histórico de interpretação, segundo revela o conteúdo da exposição "A Sociedade e o Tempo Maia" inaugurada recentemente no Museu do Ouro de Bogotá.

O arqueólogo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH) e um dos curadores da mostra, Orlando Casares, explicou à Agência Efe que a base da medição do tempo desta antiga cultura era a observação dos astros.

Eles se baseavam, por exemplo, nos movimentos cíclicos do sol, da lua e de Vênus, e assim mediam suas eras, que tinham um princípio e um final.

"Para os maias não existia a concepção do fim do mundo, por sua visão cíclica", explicou Casares, que esclareceu: "A era conta com 5.125 dias, quando esta acaba, começa outra nova, o que não significa que irão acontecer catástrofes; só os fatos cotidianos, que podem ser bons ou maus, voltam a se repetir".

Para não deixar dúvidas, a exposição do Museu do Ouro explica o elaborado sistema de medição temporal desta civilização.

"Um ano dos maias se dividia em duas partes: um calendário chamado 'Haab' que falava das atividades cotidianas, agricultura, práticas cerimoniais e domésticas, de 365 dias; e outro menor, o 'Tzolkin', de 260 dias, que regia a vida ritualística", acrescentou Casares.

A mistura de ambos os calendários permitia que os cidadãos se organizassem. Desta forma, por exemplo, o agricultor podia semear, mas sabia que tinha que preparar outras festividades de suas deidades, ou seja, "não podiam separar o religioso do cotidiano".

Ambos os calendários formavam a Roda Calendárica, cujo ciclo era de 52 anos, ou seja, o tempo que os dois demoravam a coincidir no mesmo dia.

Para calcular períodos maiores utilizavam a Conta Longa, dividida em várias unidades de tempo, das quais a mais importante é o "baktun" (período de 144 mil dias); na maioria das cidades 13 "baktunes" constituíam uma era e, segundo seus cálculos, em 22 de dezembro de 2012 termina a presente.

Com esta explicação querem demonstrar que o rebuliço espalhado pelo mundo sobre a previsão dos maias não está baseado em descobertas arqueológicas, mas em erros, "propositais ou não", de interpretação dos objetos achados desta civilização.

De fato, uma das peças-chave da mostra é o hieróglifo 6 de Tortuguero, que faz referência ao fim da quinta era, a atual, neste dezembro, a qual se refere à vinda de Bolon Yocte (deidade maia), mas a imagem está deteriorada e não se sabe com que intenção.

A mostra exibida em Bogotá apresenta 96 peças vindas do Museu Regional Palácio Cantão de Mérida (México), onde se pode ver, além de calendários, vestimentas cerimoniais, animais do zodíaco e explicações sobre a escritura.

Para a diretora do Museu do Ouro de Bogotá, Maria Alicia Uribe, a exibição desta mostra sobre a civilização maia serve para comparar e aprender sobre a vida pré-colombiana no continente.

"Interessa-nos de alguma maneira comparar nosso passado com o de outras regiões do mundo", ressaltou Maria sobre esta importante coleção de arte e documentário.

A exposição estará aberta ao público até o dia 12 de fevereiro de 2012, para depois deve ser transferida para a cidade de Medellín.

Fonte: Yahoo

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DE 6 DE NOVEMBRO A 6 DE DEZEMBRO, VOTE NO PLEBISCITO NACIONAL POPULAR PELOS 10% DO PIB PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA JÁ!


No último dia 24 de outubro, o Comitê Nacional da Campanha pelos 10% do PIB para a Educação Pública Já se reuniu na sede do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (SEPE RJ). Uma das definições centrais da reunião foi a realização do Plebiscito Nacional pelos 10% do PIB já para a Educação no período de 6 de Novembro a 6 de Dezembro.

A pergunta do Plebiscito será: Você é a favor do investimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para Educação Pública Já? Com as possibilidades de resposta Sim ou Não. Também foi definido que os Estados terão autonomia para colocar uma pergunta específica sobre a realidade de cada local.

A reunião refletiu os informes de 15 estados, aonde, ainda que de maneira desigual, a campanha está avançando. A confecção das cédulas será descentralizada, para permitir que as perguntas locais sejam incorporadas, os cartazes nacionais estão sendo confeccionados pelas entidades envolvidas na campanha e podem ter sua arte reproduzida em cada local.

Para a votação, é necessário garantir as cédulas, as listas de votantes, as atas de apuração, uma urna (que pode ser adquirida com algum sindicato que as tenha, ou pode ser improvisada, como é característico dos plebiscitos organizados pelos movimentos sociais) e muita disposição de debater, conversar e apresentar para a população brasileira esta luta justa e fundamental para toda a juventude e a classe trabalhadora do nosso país.

Mãos à Obra! É hora do Plebiscito Nacional pelos 10% do PIB para a Educação Pública Já!
 
Fonte: http://www.dezporcentoja.blogspot.com/ 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A beleza feminina entre Eva e Maria

Eva  e  Maria  constituem  os  dois  polos  da  beleza  feminina  na  Idade Média.  Essa  oposição  exprime  a  tensão  que  existe  no  próprio  coração  da imagem  da  mulher.  De  um  lado,  existe  Eva,  a  tentadora  e,  mais particularmente, a pecadora, que provém de uma leitura sexuada do pecado original. Mas, ao mesmo tempo, a Idade Média não esqueceu que o Deus do Gênesis criou a mulher para que ela fosse a companheira do homem, a fim de não deixá-lo só. Eva representa, assim, essa auxiliar do homem que lhe é necessária. Por outro lado, a Eva da criação e de antes do pecado original está nua, aliás, como Adão. E a arte medieval, de que o casal da criação será um dos grandes temas, introduz o nu feminino na sensibilidade da época.
 
É  por meio  dessa  referência paradisíaca, dessa presença da nudez, dessa psicologia da tentação, que a Idade Média descobre a beleza feminina.
 
(...)  Eva  é  uma  das  encarnações  da  beleza  que  leva  a  Idade  Média  à descoberta do corpo e, sobretudo, do rosto feminino, presente em numerosos retratos.
 
Diante de Eva, Maria aparece como a redentora. É a beleza sagrada diante da beleza profana. E a beleza feminina é feita do encontro dessas duas belezas. Mas se o corpo de Maria não é objeto de admiração, seu rosto, o é. E é o duplo rosto da mulher Eva e da mulher Maria que produz essa promoção do rosto feminino, que se impõe principalmente a partir do fim da Idade Média, no século XIII, com o gótico.

LE GOFF, J.; TRUONG, N. Uma história do corpo na Idade Média. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. 142-143.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SP prevê reprovação no 7º ano

A partir do ano de 2012 os alunos da rede pública poderão ser reprovados no sétimo ano
Antes o aluno só podia ser retino no 5º ou no 9º anos / Foto: Stock.xchng 
Antes o aluno só podia ser retino no 5º ou no 9º anos Foto: Stock.xchng


A proposta para alterar a progressão continuada de alunos da rede estadual de ensino foi aprovada ontem pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).


A partir do ano que vem, os alunos da rede pública poderão ser reprovados no 7º ano do ensino fundamental. Hoje, com a progressão continuada, não há reprovação ao final de cada ano do ensino fundamental, apenas no fim dos ciclos de aprendizagem, ou seja, o aluno só pode ser retido no 5º ou no 9º ano.


A criação da reprovação em três etapas já estava nos planos do governo desde o começo do ano. A intenção é que o aluno tenha maior acompanhamento durante o aprendizado.


O Estado ainda não divulgou oficialmente a mudança, mas informou que será discutida em outubro e pode ser alterada em seguida.

sábado, 17 de setembro de 2011

A FAMÍLIA NO CONTEXTO ESCOLAR

Por Ricardo Viana

Praticamente em todos os conceitos e pré-conceitos existente sobre determinado assunto está repleto de concepções equivocadas e que ao longo do tempo foram sendo vistas como corretas ou como modelos perfeitos a serem seguidos. A família é um desses conceitos e vem passando por um processo de mudanças significativas. Maria Rita Kehl em seu texto: “Em defesa da família tentacular” articula de forma primorosa a visão que a sociedade, principalmente os meios de comunicação, propaga e persegue da família dita “perfeita” que na verdade é produto de uma ilusão, pois esse modelo nunca teria existido efetivamente.

Aquele modelo tradicional, pai, mãe e filhos, já não é unanimidade, sobretudo nas famílias brasileiras. Hoje vemos uma quantidade grande de crianças sendo criadas por avós, mães e pais solteiros ou desquitados, separados, criados pelos irmãos ou tios, além dos casais homossexuais que recentemente tiveram a concessão para adotar filhos. Acreditar que essa diversidade de modelos caracteriza a “desestruturação familiar” e que seriam então responsáveis pela degradação social das crianças de hoje é no mínimo “relativa” levando em consideração as transformações e mudanças que também ocorrem em outros segmentos da sociedade brasileira atual, tais como a degradação do espaço público, dos conceitos religiosos e estruturais, econômicos e tecnológicos e etc.

Todo esse panorama vem de encontro a uma necessidade da sociedade e principalmente da escola de enxergar a família com “outros olhos”, não mais com pré-conceitos, não mais com aquele olhar ora de pena, ora jogando toda a culpa da conduta errada do aluno nela. É preciso ter os vários modelos de famílias como parceiras no processo de educação. Se a escola conseguir a aproximação dos familiares dos alunos, seja ele irmão, tio, avô e ou qualquer um dos responsáveis, terá dado um grande passo para a efetivação de uma educação mais democrática e de qualidade.

Tentar a aproximação dessas famílias ao ambiente escolar pode ser conseguido com a abertura da escola para projetos sociais, palestras educativas, oficinas e outros que valorizem a participação desses na sociedade e no acompanhamento dos alunos, fazendo-os sentirem-se acolhidos e respeitados. As reuniões devem ser, não só para mostrá-los que o aluno precisa melhorar, mas também para posicioná-los das qualidades e potencialidades que os filhos deles têm, precisando apenas de estímulos e incentivos. Desta forma as famílias se conscientizarão que fazem parte da educação escolar de seus filhos, não como responsáveis únicos desta, mas como parceiros dos professores e da escola nesse processo.   

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Adolescência e o papel do professor

Por Ricardo Viana

A fase mais importante da vida de um indivíduo (e tambêm a mais conflituosa) é a da adolescência.

Momento marcante para muitos em que tudo a sua volta e em sí mesmo parece não se encaixar, seu corpo está mudando, sensações novas são sentidas, dúvidas e incertezas. O jovem sente-se perdido, não sabe se ainda é criança ou se já é adulto e frusta-se ao perceber não ser nem um, nem outro.

De todos os conflitos e incertezas que atravessam os jovens nos dias atuais, podemos destacar dois mais importantes e que os afetam consideravelmente em seu dia e principalmente no ambiente escolar, são: a sexualidade, ocasionada pelas tranformações hormonais e a violência, reflexo da própria desestruturação social da contemporâneidade.

Como o Professor pode interferir nestas problemáticas? Em ambos os casos o papel do professor é extremamente importante, pois muitos alunos tem na imagem deste um referêncial que não pode ser ignorado. O professor (e eu como um) deve trabalhar de forma transdiciplinar, abordando esses temas em sua disciplina de forma a levar os alunos à reflexão crítica dos conceitos e modelos, muitas vezes imposto pela sociedade através da mídia em geral. A banalização do sexo, as diferenças de visões das várias culturas, no passado e presente, em relação ao corpo, sexualidade (homo e hetero) deve ser amplamente discutida, para que os alunos percebam que não são os único na história da humanidade a sentir-se delocados e perdidos. Em relação a violência, despertá-los para a massificação e manipulação que muitas vezes ocorrem nos noticiários, problematizando as divergências e diferenças de opniões e gostos, trabalhando a diversidade cultural e a riqueza existente nela.

Como diz Álvaro Chrispino: "As escolas que valorizam o conflito e aprendem a trabalhar com essa realidade, são aquelas onde o diálogo é permanente, objetivando ouvir as diferenças para melhor decidirem; são aquelas onde o exercício da explicitação do pensamento é incentivado, objetivando o aprendizado da exposição madura das idéias por meio da ssertividade e da comunicação eficaz; onde o curriculo considera as oportunidades para discutir soluções alternativas para os diversos exemplos de conflito (...)".

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Escola e o tempo

Autor: Ricardo Viana

              O tempo sempre foi ao longo da história objeto de fascínio humano, transformando-se e adaptando-se as necessidades de cada época. Na antiguidade o tempo era o tempo rural, diretamente ligado à natureza regulava os fazeres diários conforme o sol nascia, em algumas sociedades era associado aos deuses e tinha suas características próprias. Na modernidade e na contemporaneidade, o tempo passou a regular de forma mais cruel o homem, principalmente após a revolução industrial em que o tempo passou a ser medido mecanicamente através do relógio e depois com o meio de produção conhecido como “fordismo“.

            Esse modelo de tempo cronológico dominador e implacável é o tempo que conhecemos hoje, é ele que nos direciona e nos conduz todos os dias ao acordarmos do descanso necessário. Hoje temos necessidades e objetivos diversos e diferentes das épocas antigas, mas continuamos (talvez até mais que antes) presos ao tempo, principalmente dos afazeres externos.

            A escola como ambiente inserido nesse modelo tem o tempo cronológico como um amigo e ao mesmo tempo um inimigo na sua função máxima de formar cidadãos. Inimigo, quando fica preso a burocracias sem reflexões, relatórios estafantes, grade curricular desconexa com o tempo do aluno, disciplinas fragmentadas sem ligação entre si e portanto, sem sentido real. E amiga, quando utiliza deste mesmo tempo para disciplinar, representar e apresentar o mundo aos alunos, com todas as suas demandas de obrigações e compromissos que o mundo “globalizado” assim exige.

            No entanto, só essa representação e apresentação do mundo não é suficiente para a formação integral do aluno, é necessário fazê-lo perceber a dimensão e importância que esse tempo tem para a sociedade e suas conseqüências no seu dia a dia, é importante também a exemplificação do tempo vivido, sentido e intensificado pelas relações de companheirismo, fraternidade, respeito e da intensidade dos atos e atitudes, que conduzem a um aprendizado medido e avaliado dentro de processos históricos da vida de cada um deles.

            Fazer isso acontecer não é fácil, temos algumas formulas que se bem utilizadas podem aproximar-se destes objetivos que são: os eixos temáticos, projetos interdisciplinares, a transdisciplinaridade, a utilização de novas tecnologias e a administração mais eficaz do tempo das atividades e trabalhos desenvolvidos dentro da sala de aula.  

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reflexões sobre a Escola, o Professor e o Ensino de hoje - Parte 2


Por Ricardo Viana

A sociedade atual vem passando por transformações cada vez mais rápidas e significativas em diversos segmentos. Se antes havia uma espécie de "equilíbrio", hoje o aparente "caus" tomou proporções assustadoras. Mas é importante considerar que o "caus" aparente é na verdade reflexo dessas mudanças demandadas pela própria dinâmica social pautada nos avanços tecnológicos, na globalização e no consumismo exagerado que produz a ilusão da necessidade irreal.

Essas mudanças ocorreram (e ainda ocorrem), como já ditas, nos vários segmentos da sociedade e a escola, como um dos mais significativos produtor e mantenedor de cultura e conhecimento, não pode permanecer à parte destas mudanças, é prioritário que o professor no século XXI mantenha-se conectado, antenado mesmo, com todos os processos transformadores que impactam de forma significativa o seu dia a dia, o seu fazer pedagógico.

As famílias não são e não se comportam mais como antigamente, portanto os valores são outros. As tecnologias trouxeram um mundo mais atrativo, mais colorido e ilusório, onde num apertar de teclas se desvelam um mundo inteiro a seu dispor, ou pelo menos na frente do seu monitor. As relações com a escrita virtual e os diálogos cibernéticos, tornaram os alunos mais dinâmicos, impulsivos, impacientes e avessos as regras. É importante que o professor acompanhe essa nova juventude, interaja com eles, aprenda sua linguagem, se atualize se renove e inove na sala de aula. Os alunos atuais não querem mais aquela escola do século XVIII que alguns professores insistem em querer manter com unhas e dentes. É imperativo ao professor de hoje dominar a informática e procurar meios mais atrativos de transmitir o conteúdo da sua disciplina, utilizando-se de aulas virtuais, filmes, aulas ao ar livre, visitas em museus (físicos e virtuais), musicas, literatura, danças e etc.

É evidente que todo o exposto acima deve respaldar-se nas orientações curriculares, no projeto político da escola, nos contratos didáticos com os alunos e também em parceria com familiares destes.