sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Papiro que cita mulher de Jesus é falsificação moderna, diz estudioso
21 de setembro de 2012 19h55 atualizado às 20h01

O papiro foi apresentado pela professora Karen King, de Harvard. Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação O papiro foi apresentado pela professora Karen King, de Harvard
Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação

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Um estudioso do Novo Testamento diz ter encontrado evidências de que o chamado "Evangelho da Mulher de Jesus" é uma falsificação moderna. O professor Francis Watson, da Universidade de Durham, diz que o fragmento de papiro que causou polêmica ao surgir no início desta semana, por se referir à suposta mulher de Jesus, é uma colcha de retalhos, e que todos os fragmentos de frases encontrados foram copiados, com algumas alterações, de edições impressas do Evangelho de Tomé. As informações são do Guardian.

A descoberta já acendeu um debate feroz entre os acadêmicos, mas o professor acredita que sua nova pesquisa possa ser conclusiva. "Eu creio que é mais ou menos indiscutível que eu demonstrei como a coisa foi composta", argumentou. "Eu ficaria muito surpreso se não fosse uma falsificação moderna, ainda que seja possível que tenha sido composta desta forma no século 4", acrescenta.

O artigo publicado online por Watson afirma que a obra foi montada por alguém que não era um falante ativo da linguagem copta - usada pelos cristãos egípcios durante o império romano -, o que é um jeito educado de dizer que se trata de um trabalho moderno. Ele não critica diretamente a professora Karen King, de Harvard, que apresentou o fragmento em uma conferência em Roma. Watson diz que ela fez um ótimo trabalho em apresentar as evidências e imagens do fragmento. Ele crê que o papiro em si pode datar do século 4, mas as palavras, diz ele, mostram claramente a influência dos livros impressos modernos. Karen afirmou acreditar que o papiro foi criado entre os séculos 2 e 4, mas a data do objeto ainda não foi analisada quimicamente.

Há uma quebra de linha no meio de uma palavra que parece ter sido retirada diretamente de edições modernas do Evangelho de Tomé, um texto genuinamente gnóstico ou cristão. De acordo com o professor, é comum que palavras estejam quebradas no meio em escritas antigas, como a copta, que eram escritas sem hífens. No entanto, é incomum que a ruptura apareça na mesma obra em dois manuscritos diferentes.
A professora Karen ainda não se manifestou sobre o assunto.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fragmento de texto do século II fala em "mulher de Jesus"
18 de setembro de 2012 18h21 atualizado às 18h47

Cientistas acreditam que fragmento faça parte de evangelho desconhecido. Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação Cientistas acreditam que fragmento faça parte de evangelho desconhecido
Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação


Um papiro é a primeira evidência de que os cristãos já acreditaram que Jesus foi casado, segundo um estudo da Harvard Divinity School. A descoberta foi anunciada em um congresso no Institutum Patristicum Augustinianum (do Vaticano) em Roma.

"A tradição cristã afirma que Jesus não foi casado, apesar de não haver nenhuma evidência histórica confiável para suportar essa afirmação", diz Karen King, de Harvard. "Este novo texto não prova que Jesus foi casado, mas nos conta que a questão como um todo apenas veio de um vociferador debate sobre sexualidade e casamento. Os cristãos discordavam sobre se era melhor ou não casar, mas isso foi um século depois da morte de Jesus, depois eles apelaram para o estado conjugal de Jesus para suportar suas posições."

Roger Bagnall, diretor do Instituto de Estudo do Mundo Antigo, em Nova York, acredita que o fragmento seja autêntico, baseado em exames do papiro e da caligrafia. Outros especialistas também acreditam na autenticidade baseados em outros dados, como linguagem e gramática, segundo nota de Harvard desta terça-feira. O objeto ainda vai passar por mais testes, especialmente da composição química da tinta.
Um dos lados do fragmento tem oito linhas incompletas de texto, enquanto o outro está muito danificado e apenas três palavras e algumas letras podem ser vistas - inclusive com infravermelho e processamento da imagem em computador. Karen afirma que o pequeno texto fala sobre assuntos como família, disciplina e casamento dos antigos cristãos.

A pesquisadora e a colega AnneMarie Luijendijk, professora de religião em Princeton, acreditam que o fragmento faça parte de um evangelho desconhecido. Um artigo com resultados do estudo do objeto será publicado em janeiro de 2013 no jornal Harvard Theological Review.

O fragmento faz parte de uma coleção particular cujo dono procurou a pesquisadora para que ela traduzisse o texto. Ele deu a Karen uma carta dos anos 80 do professor Gerhard Fecht, da Universidade Livre de Berlim, na qual ele afirmava acreditar que era uma evidência de um possível casamento de Jesus.

A professora de Harvard disse não acreditar em um primeiro momento (em 2010) que fosse autêntico e disse ao dono que não tinha interesse na análise. Contudo, ele persistiu no contato e, em dezembro de 2011, ela o convidou a levar o objeto a Harvard. Em 2012, ela e Luijendijk levaram o papiro a Bagnall que analisou e disse ser possivelmente autêntico.

Pouco se sabe de sua origem, mas acredita-se ser do Egito, já que está escrito em copta - usado pelos cristãos egípcios durante o império romano. Como há texto dos dois lados, os pesquisadores acreditam que faça parte de um livro, ou códex.

Para motivos de referência, o evangelho do qual supostamente faria parte foi chamado de "Evangelho da Mulher de Jesus". A pesquisadora acredita que ele seja da segunda metade do século II, já que outros evangelhos descobertos recentemente são dessa época. A origem, como dos outros, certamente está atribuída a alguém próximo a Jesus, mas o verdadeiro autor deve ser desconhecido. Eles acreditam ainda que foi escrito originalmente em grego e depois traduzido.

No texto, os cristãos falam de si como uma família, com Deus como pai, seu filho Jesus e membros como irmãos e irmãs. Duas vezes no fragmento, Jesus fala de sua mãe e de sua mulher - sendo que uma das duas ele chama de Maria. Os discípulos discutem se Maria é digna, e Jesus diz que "ela pode ser minha discípula".

Segundo Karen, somente por volta do ano 200 é que foi afirmado, em texto registrado por Clemente de Alexandria, que Jesus não se casou. Na época havia uma discussão se os cristãos deveriam se casar ou viver no celibato. Segundo Clemente, cristãos da época afirmavam que o casamento fora instituído pelo demônio. A pesquisadora afirma que Tertuliano de Cartago, uma ou duas décadas depois, foi quem declarou que Jesus não havia se casado. Ele, contudo, não condenava o casamento - desde que ocorresse apenas uma vez, mesmo em caso de morte de um dos cônjuges.

No final, afirma Karen, a visão dominadora foi a de que o celibato é a mais alta forma de virtude sexual do cristianismo, enquanto permite o casamento, mas apenas para a reprodução. "A descoberta desse novo evangelho oferece uma ocasião para repensar o que achávamos saber ao questionar qual foi o papel que o status conjugal de Jesus teve historicamente nas controvérsias dos cristãos antigos sobre casamento, celibato e família. A tradição preservou apenas aquelas vozes que clamavam que Jesus nunca se casou. O 'Evangelho da Mulher de Jesus' agora mostra que alguns cristãos pensavam de outra forma."