terça-feira, 22 de março de 2011

Concurso da PMSP Professor Fundamental II

GALÉRA!!!!

           SAIU O CONCURSO PARA PROFESSOR FUNDAMENTAL II DA PREFEITURA DE SÃO PAULO, VALE A PENA CONFERIR É PELA FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS.

LINK: http://www.concursosfcc.com.br/concursos/pmspd111/index.html

segunda-feira, 21 de março de 2011

Professor "novato" desiste de aulas na rede estadual de SP

21/03/2011 - 03h30

Professor "novato" desiste de aulas na rede estadual de SP

Publicidade
DE SÃO PAULO
Hoje na Folha Professores recém-concursados desistem de ensinar na rede estadual de São Paulo. Entre as principais reclamações estão falta de condições de trabalho (salas lotadas, por exemplo), desinteresse de alunos e baixos salários, informa a reportagem de Fábio Takahashi publicada na edição desta segunda-feira da Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Edson Rodrigues da Silva, 31, formado na USP, foi aprovado ano passado no concurso público da rede estadual para ensinar matemática. Passou quatro meses no curso preparatório obrigatório do Estado para começar a lecionar neste ano no ABC paulista. Ao final do primeiro dia de aula, desistiu.
"Vi que não teria condições de ensinar. Só uma aluna prestou atenção, vários falavam ao celular. E tive de ajudar uma professora a trocar dois pneus do carro, furados pelos estudantes. Se continuasse, iria entrar em depressão. Não vale passar por isso para ganhar R$ 1.000 por 20 horas na semana."
Até a última sexta-feira (18), 60 professores já haviam finalizado o processo de exoneração, a pedido, média de mais de dois por dia letivo.
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) diz ser normal o número de desistências, considerando a quantidade de efetivações (9.30). No entanto, os educadores discordam.
Para a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Maria Marcia Malavasi, "o cenário é triste; especialmente na periferia, os professores encontraram escolas sem estrutura, profissionais mal pagos, amedrontados e desrespeitados."

Editoria de arte/Folhapress

domingo, 20 de março de 2011

Mensagem criativa de uma escola da califórnia/ tele atendimento

MENSAGEM CRIATIVA DE UMA ESCOLA DA CALIFÓRNIA

Esta é a mensagem que os professores de uma escola da Califórnia decidiram gravar na secretária eletrônica.  A escola cobra responsabilidade dos alunos e dos pais perante as faltas e trabalhos de casa e, por isso, ela e os professores estão sendo processados por
pais que querem que seus filhos sejam aprovados mesmo com muitas faltas e sem fazer os trabalhos escolares.

Eis a mensagem gravada:

- Olá! Para que possamos ajudá-lo, por favor, ouça todas as opções:


- Para mentir sobre o motivo das faltas do seu filho - tecle 1.
- Para dar uma desculpa por seu filho não ter feito o trabalho de casa - tecle 2.
- Para se queixar sobre o que nós fazemos - tecle 3.
- Para insultar os professores - tecle 4.
- Para saber por que não foi informado sobre o que consta no boletim do seu filho ou em diversos documentos que lhe enviamos - tecle 5.
- Se quiser que criemos o seu filho - tecle 6.
- Se quiser agarrar, esbofetear ou agredir alguém - tecle 7.
- Para pedir um professor novo pela terceira vez este ano - tecle 8.
- Para se queixar do transporte escolar - tecle 9.
- Para se queixar da alimentação fornecida pela escola - tecle 0.
- Mas se você já compreendeu que este é um mundo real e que seu filho deve ser responsabilizado pelo próprio comportamento, pelo seu trabalho na aula, pelas tarefas de casa, e que a culpa da falta de esforço do seu filho não é culpa do professor, desligue e tenha um bom dia!"

quarta-feira, 9 de março de 2011

História da África para Download




Coleção “História Geral da África” ganha edição em língua portuguesa e pode ser baixado por qualquer pessoa através do site da Unesco. São mais de seis mil páginas que prometem melhorar ainda mais o ensino de história nas escolas brasileiras


Download: www.unesco.org/brasilia/publicacoes ou www.mec.gov.br/publicacoes

Entrevista: Hilário Franco Junior

Da Idade Média ao Futebol
O historiador Hilário Franco Júnior mostra que bate um bolão na história ao dividir seus estudos entre a Idade Média e o Futebol Contemporâneo

Ele é a referência nos estudos medievais no Brasil. E quem estuda a história do futebol também precisa estar atendo ao que ele diz, pois seu mais novo campo de estudo é o futebol.Na entrevista de fevereiro/março, o papo é com o professor Hilário Franco JUnior, um dos maiores historiadores brasileiros em atividade. Na agradável entrevista concedida ao Café História, o professor Hilário contou como começou sua curiosa trajetória na área de história, além de comentar sobre questões contemporâneas e sobre suas atuais pesquisas. Não perca uma linha sequer!

CAFÉ HISTÓRIA - Professor, antes de tudo, gostaria de dizer que é um grande prazer para o Café História tê-lo como entrevistado. Bom, nossa primeira pergunta está relacionada à sua formação: como o Hilário Franco Júnior tornou-se um historiador? Quando começou seu fascínio pela profissão?

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - Na verdade minha trajetória é curiosa. Ao contrário do que aconteceu com muitos colegas, na escola a História não me atraía mais do que as outras matérias, ou seja, pouco. Nunca fui bom aluno. Sem saber muito bem o que fazer como faculdade, acabei indo por influência de amigos e da família para Administração de Empresas! Mas – veja como o destino pode ser curioso – na Fundação Getúlio Vargas onde eu tinha ingressado, o Centro Acadêmico dirigia um cursinho preparatório para os interessados em prestar aquele vestibular. Os professores do cursinho eram exclusivamente alunos da faculdade, e quando se formavam deixavam a função e havia um concurso interno para contratar outros alunos para dar aula aos vestibulandos. Logo no meu primeiro ano de curso abriu uma dessas vagas, prestei o tal concurso porque era um emprego bem pago e muito prático (eu seria aluno e professor no mesmo prédio). Ganhei uma das vagas de História Geral e um treinamento de um semestre antes de começar a nova função. Percebi então o óbvio: não sabia o suficiente para ensinar classes de cinquenta alunos, de forma geral de bom nível cultural. Comecei a estudar por conta própria e fui me envolvendo com a História. Mas ainda sem planos maiores nesse campo. Um amigo que ia prestar como segunda faculdade Ciências Sociais insistiu para que eu fizesse o mesmo com História. Prestei o vestibular na USP (provas somente dissertativas naquela época), passei, porém não me inscrevi. Eu não me via como definitivamente professor e pesquisador de História. Porém dois anos depois senti finalmente necessidade de uma formação específica, meu autodidatismo não me satisfazia mais. Fui me informar, e por um desses felizes (e raros!) mistérios da burocracia eu podia me inscrever sem novo vestibular. Foi o que fiz e o ambiente de Humanas me cativou de vez, enquanto cada vez mais me cansavam a Micro e Macro Economia, Estatística, Matemática Financeira (aghr!) etc. A Administração perdeu um ex-futuro medíocre administrador de empresas e a História ganhou um apaixonado adepto.

CAFÉ HISTÓRIA - Em “Apologia da História”, Marc Bloch fala sobre a felicidade de poder falar, no mesmo tom, aos doutos e aos escolares. Professor, uma das características de seus textos (entrevistas, livros, artigos etc.) é a linguagem acessível, mas sem abdicar do rigor acadêmico e de uma estética apurada. Falar para todos os públicos é realmente uma preocupação sua? Qual deve ser a relação entre historiador e sociedade?

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - Creio que não se deva estabelecer regras rígidas a respeito. É preciso respeitar perfis pessoais e projetos de vida intelectual. Alguns historiadores têm vocação para democratizar seus conhecimentos, outros não; e estes podem fazer excelente trabalho de pesquisa e mesmo de ensino para públicos especializados. No meu caso, acho que foi minha trajetória pouco ortodoxa que formatou o historiador que sou. Como disse na resposta anterior, precisei aprender a dar aula dentro da sala de aula, diante de alunos apenas dois ou três anos mais jovens que eu, muitos deles vindos de ambientes familiares propíceis às coisas da cultura. Eu lia muito, mas fui percebendo que nem sempre eram boas leituras, havia muita divulgação pouco rigorosa, daí a idéia de seguir a faculdade de História e conhecer o que se fazia de realmente científico no campo. Além disso, o fato de ter de ensinar a História do Egito faraônico à Guerra da Coréia acabou me sendo extremamente útil, permitiu uma visão de conjunto, o estabelecimento de comparações, não me fechou nos limites rígidos de uma especialização. Esta é, evidentemente, indispensável, mas DEPOIS de uma sólida visão de conjunto. Assim, tive de aprender a falar e a escrever para gente não necessariamente fascinada pela História. A tarefa de fascinar cabe ao professor, e para isso o primeiro passo é ser claro, escapar dessa praga de discursos pedantes, politicamente corretos, pretensamente científicos e que escondem vanidades e chavões. E de fato, é um grande prazer transmitir – oralmente ou por escrito - determinado conteúdo e perceber que o público te compreende e se interessa pelo assunto.

CAFÉ HISTÓRIA - Em seu livro “A Idade Média – Nascimento do Ocidente”, o senhor observa que mesmo aquelas sociedades que não possuem um passado medieval, vêem nos últimos anos entendendo a importância do estudo desse período histórico, uma vez que ele possui um papel decisivo para a formação da civilização ocidental. Tomando o Brasil como exemplo, essa ligação com o universo medieval é vista com relativa facilidade quando observamos muitas de nossas tradições religiosas. Mas qual a relação que áreas como a política, cultura ou economia possuem com esse mesmo universo medieval?

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - Do ponto de vista político, podemos lembrar das “dinastias” do Norte-Nordeste como os Magalhães, Sarney ou Barbalho, bem como da “feudalização” que os vereadores promovem em muitas cidades, inclusive São Paulo há alguns anos. Do ponto de vista social, a fragilidade institucional, a baixa consciência de cidadania, a grande indistinção entre coisa pública e coisa privada, o nepotismo, o corporativismo, são ecos dos elementos medievais aqui introduzidos pelos colonizadores portugueses. Do ponto de vista cultural, não é preciso insistir que nossa língua nasceu na Idade Média e que, aliás, falamos no Brasil um português muito mais próximo ao medieval do que ocorre em Portugal atual. Além disso, a literatura de cordel e seus temas cavaleirescos, carolíngios e arturianos são outros testemunhos de nossa medievalidade. Como essa relação entre Brasil e Idade Média é mais complexa do que podemos conversar aqui, tomo a liberdade de indicar para os interessados um artigo que publiquei a respeito no ano passado: “Raízes medievais do Brasil”, Revista USP, 78, 2008, pp.80-104.

CAFÉ HISTÓRIA - Durante muito tempo, medievalistas discordaram a respeito da periodização da Idade Média. Existe algum consenso hoje em dia? Onde começa e onde termina a Idade Média? Existem marcos seguros ou eles serão sempre problemáticos?

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - Eles serão sempre problemáticos, porque decorrem evidentemente muito mais do arbítrio do historiador do que dos fatos pretensamente classificadores. E como o historiador é produto de seu presente, e este muda, as classificações periodizantes mudam. Esta questão já gerou inúmeros debates, como se sabe, mas talvez no fundo seja um falso problema. Pouco importa rotular o fim da Idade Média em 1453, 1492, 1517 ou, como fez Jacques Le Goff mais recentemente, 1800. Na adoção de qualquer uma dessas fronteiras cronológicas todas há muito de “reserva de caça” de domínios científicos. O verdadeiro especialista não se coloca uma camisa de força, prefere periodizações amplas e flexíveis. Como se pode ser especialista do século XIV, por exemplo, sem conhecer profundamente os séculos XI-XIII numa ponta e XV-XVI na outra? O fundamental é ter consciência que a História de qualquer época comporta diferentes planos, cada um deles com ritmos próprios. Privilegiar 1453 é dar maior importância à política, escolher 1492 é colocar a economia à frente de tudo, 1517 é pensar que a religião está no centro da sociedade, e assim por diante. Portanto, o recorte temporal depende do objeto estudado, e no caso de uma visão ampla sobre muitos séculos (Idade Antiga, Média, Moderna) o melhor é não adotar fronteiras e sim zonas fronteiriças.

CAFÉ HISTÓRIA - Nos últimos anos, é notório o clima tenso entre as religiões monoteístas. Judeus e muçulmanos intensificam o confronto no Oriente Médio. Bispos da Igreja Católica criam mal-estar com judeus ao negar o Holocausto. Só para citar dois exemplos. Analistas, na mídia, evocam o passado para explicar a origem dessas tensões. As tensões religiosas da Idade Média explicam, de fato, esse cenário contemporâneo?

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - Temos aí um bom exemplo dos usos “politicamente corretos” e cientificamente incorretos da História. É mais fácil debitar a responsabilidade de certas situações atuais a séculos remotos, a atos tornados anônimos pelo tempo, do que inculpar o passado recente, de nossos pais, avós ou bisavós. Claro que as Cruzadas dos séculos XI-XIII despertaram nos ocidentais fortes sentimentos antisemitas, isto é, contra judeus no interior da Cristandade, contra árabes no exterior. Mas isso não explica os choques intersemitas (árabes contra judeus,judeus contra árabes) atuais, que decorrem das duas grandes guerras mundiais do século XX. Certa crise de consciência colonial, sobretudo inglesa, e certa crise de consciência ocidental em relação aos judeus massacrados pelos nazistas, levaram ao nascimento artificial e autoritário do Estado de Israel, construído por ocidentais (judeus e cristãos) à custa da população palestina lá instalada há séculos. O argumento “histórico” a favor da decisão é claramente falacioso: aquela é a terra de origem dos judeus. Mas a América é a terra de origem dos indígenas e ninguém pensa em expulsar os brancos e devolvê-la aos seus ocupantes originários. O argumento “moral” não é menos tendencioso: os judeus foram objeto de genocídio por não terem seu próprio país. É verdade, e esse fato extremamente grave e condenável não pode ser esquecido, mas é verdade também que as potências ocidentais nada fizeram diante de outros genocídios, como o dos armênios por parte dos turcos entre 1915 e 1917 ou o dos tutsis (75% da população eliminada!) de Ruanda em 1994. A rigor, Israel nasceu de conjunção de interesses entre a direita religiosa judaica e as potências ocidentais que desejavam se manter próximas das fontes petrolíferas árabes. Em suma, são questões geopolíticas do século XX que explicam o problema, não questões religiosas da Idade Média.

CAFÉ HISTÓRIA - Os historiadores dos Annales são responsáveis por grandes transformações da historiografia ocidental. O senhor chegou a trabalhar com algum desses historiadores? Do ponto de vista de suas pesquisas, qual desses historiadores mais o marcou e por quê?

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - Fiz meu pós-doutorado com Jacques Le Goff, grande intelectual e grande pessoa, e evidentemente ter tido contato com ele pelo menos uma vez por semana ao longo de dois anos e meio deixou marcas importantes na minha visão da História. Nossos encontros periódicos mantêm-se até hoje, embora mais espaçados, e mesmo os temas históricos tendo deixado de serem o centro de conversação, já que nossa relação passou a ser mais pessoal, são sempre encontros muito estimulantes. E sua obra continua significativa para mim, em especial por aliar erudição e imaginação no contato com as fontes. De Georges Duby, a quem não conheci pessoalmente, tiro sobretudo a valorização da escrita historiográfica : ele mostrou que um grande historiador não precisa -- não deve -- escrever de maneira hermética em nome de uma pretensa seriedade científica. Marc Bloch, o mestre deles dois, me inspira pelas preocupações metodológicas e pela ousadia na escolha dos temas estudados. Da mesma geração que eu, mantenho contatos estreitos e profícuos com Jean-Claude Schmitt, o principal discípulo de Le Goff.

CAFÉ HISTÓRIA - O senhor é bastante conhecido por seus trabalhos no campo da mitologia medieval. No entanto, recentemente, lançou o livro "A Dança dos Deuses - Futebol, Sociedade e Cultura", pela Companhia das Letras. Isso indica uma mudança em suas pesquisas acadêmicas? Conte mais sobre esse e outros projetos em vias de produção.

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - O livro sobre futebol abriu, efetivamente, outra frente de interesse, o que não significa abandono dos estudos medievalísticos. Vou, na verdade, tocar ambas as frentes paralelamente, antes de abrir uma terceira e talvez uma quarta. No que diz respeito ao futebol, a motivação é simples: refletir sobre um fenômeno sóciocultural de amplo alcance e até agora desprezado pela Universidade, que o abandonou nas mãos de jornalistas, cujo interesse e abordagem são outros. Nesse campo tenho encaminhado um livro de ensaios que não sairá antes de dois ou três anos, é um conjunto de pequenos textos que ou estão sendo escritos ao acaso de convites ou que não puderam ser aproveitados em “A dança dos deuses” devido ao tamanho do livro. No que diz respeito à medievalística, sairá em junho deste ano o volume II (e nova edição do vol.I) dos “Ensaios de mitologia medieval”. No momento trabalho também numa análise de conjunto sobre as utopias medievais, que será objeto do próximo livro, não sei ainda exatamente para quando.

CAFÉ HISTÓRIA - Professor Hilário, chegamos ao fim de nossa entrevista. Gostaria de pedir ao senhor duas coisas. Primeiro que deixasse uma mensagem para os membros do Café História, em sua maioria professores e alunos de história. Por último, que indicasse algum bom novo livro sobre Idade Média para nossos leitores medievalistas. No mais, foi um prazer entrevistá-lo. Muito obrigado pela entrevista e um forte abraço em nome de todos da rede.

HILÁRIO FRANCO JUNIOR - É sempre um prazer conversar com gente interessada por História e que tenta difundi-la de maneira ampla e correta como faz o Café História. A mensagem que deixo aqui é simples e bem pouco original: o verdadeiro estudo da História é uma atividade intelectual riquíssima, que alia domínios diversos como política, filosofia, psicologia, literatura, artes plásticas, religião, dentre outros, e por isso mesmo pressupõe acúmulo informativo e esforço reflexivo. Minha sugestão enfática é que todo interessado pela História rejeite grandes modelos supostamente explicativos de tudo, mantendo o espírito aberto e mergulhando na leitura, sobretudo das fontes primárias. Quanto à indicação de uma publicação recente, como conversamos sobre as fronteiras entre Idade Média e Idade Moderna e sobre a Escola dos Annales, penso que uma boa sugestão seja a tradução brasileira que acaba de sair do maior livro de Lucien Febvre, fundador dos Annales ao lado de Marc Bloch: “O problema da descrença no século XVI. A religião de Rabelais”, editado pela Companhia das Letras.

Hilário Franco Junior é Medievalista, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), Hilário Franco Júnior possui toda a sua formação na área de história, tendo feito seu pós-doutorado com Jacques Le Goff na École des Hautes Études en Sciences Sociales. Hilário é especialista em mitologia medieval e recentemente escreveu um livro sobre futebol e sociedade.

Fonte: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/arquivo-conversa-cappuccino-2

quinta-feira, 3 de março de 2011

O HISTORIADOR JACQUES LE GOFF

          O historiador francês Jacques Le Goff nasceu em Toulon, no dia primeiro de janeiro de 1924. Especialista em Idade Média, realizou importantes estudos a respeito da Antropologia histórica do Ocidente medieval. Ligado ao movimento da Escola dos Anales, sucedeu Fernand Braudel no comando da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris e cedeu seu lugar a François Furet em 1967. Le Goff renovou a pesquisa histórica sobre mentalidade e Antropologia da Idade Média, principalmente nos anos 80 do século XX, quando trabalhou em uma biografia da São Luís publicada em 1996. Dentre outros trabalhos, Le Goff é autor dos livros Mercadores e Banqueiros na Idade Média, O Nascimento do Purgatório, O Imaginário Medieval, História e Memória, História Religiosa da França (em parceria com René Remond), O Homem Medieval, A Europa Contada aos Jovens, Por Amor das Cidades, A Bolsa e a Vida, Dicionário Temático da Idade Média (em parceria com Jean-Claude Schmitt), O Deus da Idade Média, O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval e São Francisco de Assis.
          Para Le Goff, a História não é uma ciência como as outras. Palavra de etmologia grega, Historie significa inicialmente procurar, mas também testemunha, aquele que vê, aquele que sabe. Já Historein, grego antigo, tem o sentido de procurar saber, investigação, procura. Nas línguas românicas, História ganhou inicialmente o sentido utilizado por Heródoto: "procura das ações realizadas pelos homens". Foi com este sentido que se empreendeu o esforço para constituí-la em ciência. Mas, representou também o objeto da procura, aquilo que os homens realizaram. De outra forma, significou ainda narração verdadeira ou falsa. Historicidade, portanto, é um conceito desligado das suas origens históricas, situado no primeiro plano da renovação epistemológica da segunda metade do século XX, que permitiu refutar no plano teórico a noção de sociedade sem história, refutada pelo estudo empirico das sociedades analisadas pela Etnologia e inseriu a própria História numa perspectiva histórica.
 
 
Fonte: Café História (http://cafehistoria.ning.com/)

terça-feira, 1 de março de 2011

A ÉTICA DO SUJEITO RESPONSÁVEL



Edgar Morin

        Nossas finalidades não nos são impostas, no sentido que, nas nossas sociedades individualis­tas, a ética não se impõe imperativamente nem universalmente a cada cidadão; cada um terá de escolher por si mesmo os seus valores e ideais, isto é, praticar a auto-ética. Estas finalidades po­dem ser particulares, voltadas a uma única pátria, a uma pessoa querida. Hoje, um grande número de nós vive sob a influência das grandes religiões universalistas como o budismo, o cristianismo, o is-lamismo. A mensagem fraternalista dessas reli­giões foi laicizada e endossada pela Revolução Francesa, depois amplificada e universalizada pe­lo socialismo. A fraternidade e a compaixão fo­ram incessantemente desmentidas pelas práticas cometidas em nome dessas religiões e do socialis­mo, mas permanecem o fiindo subjacente do qual podemos retirar e eleger nossas finalidades.
Eleger nossas finalidades, implica integrá-las profundamente em nossos espíritos e almas, jamais esquecê-las, jamais renunciar a elas, mes­mo se perdermos a esperança de constatar sua realização.
Elas encontram-se primeiramente inscritas na trindade "Liberdade, Igualdade, Fraterni­dade", sabendo-se que, entre esses três termos existe sempre não apenas complementaridade, mas também antagonismo, e que assumir a com­plexidade trinitária implica assumir uma estraté­gia complexa.
A finalidade principal da trindade se realiza na fraternidade. Ela é simultaneamente meio e fim. Tem um significado antropológico universal. Civilizar a terra é uma finalidade inseparável da precedente.
O DESAUO
Sabemos que nossas finalidades não vão ine­vitavelmente triunfar, e que a marcha da história


não é moral. Devemos visualizar seu insucesso pos­sível e até mesmo provável. Justamente porque a incerteza sobre o real é fundamental, é que so­mos conduzidos a lutar por nossas finalidades. A ecologia da ação não nos convida à inação, mas ao desafio que reconhece seus riscos, e à estratégia que permite modificar a ação empreendida.
A ESTRATÉGIA
O maniqueísmo da ação política pode ser constatado apenas em seus escalões mais inferio­res e tem por efeito camuflar o aleatório e a in­certeza da ação.
O problema consiste em evitar o realismo trivial (adaptar-se ao imediato) e o irrealismo tri­vial (subtrair-se às constrições da realidade). O importante é ser realista no sentido complexo do termo (compreender a incerteza do real, sa­ber que há o possível, mesmo que ainda este­ja invisível no real), o que frequentemente po­de parecer irrealista. A incerteza do real pode ensejar tanto o idealismo ético (agir de acordo com suas finalidades e ideais) como o realismo estratégico.

Como na terrificante contenda de Jacó com o Anjo, tal como foi simbolizada no quadro de Delacroix, a estratégia luta contra o real, acaban­do por copular com ele.
A estratégia elabora um cenário de ação que examina as certezas e incertezas da situação, as probabilidades e as improbabilidades. Na práti­ca, ela se constrói mostrando-se disponível a to­das as modificações em função das informações que recebe, dos acasos, contratempos ou boas novidades que reencontra. A estratégia deve ora privilegiar a prudência, ora a audácia e, se possí­vel, as duas simultaneamente. Ela pode e deve, frequentemente, efetuar compromissos. Mas até que ponto? Não há uma resposta geral para essa questão, mas qualquer desafio quase sempre con­tém um risco, seja o da intransigência, que pode conduzir à derrota, ou o da transigência que pode levar à abdicação. De modo singular, e em fun­ção do contexto e de seu próprio desenvolvimen­to, é na estratégia que se coloca o problema da dialógica entre fins e meios, entre a realpolitïk e a idealpolitik.


idéias-guia
Uma ética política que se pretenda verda­deiramente humana supõe primordialmente a restauração do sujeito responsável. Lembremos que a eliminação do sujeito por uma elite cientí­fica e intelectual foi o delírio de uma subjetivida-de que se ignorava a si própria. A restauração do sujeito é uma pré-condição para o conhecimento objetivo (um conhecimento que ignorasse o su­jeito do conhecimento não saberia ser objetivo, e isso porque ignoraria o fato que não pode haver conhecimento objetivo sem um sujeito que o ope­re para atingir a objetividade). A restauração do sujeito comporta a exigência do auto-exame, a consciência da responsabilidade pessoal, e o en­cargo autónomo da ética (auto-ética).
O problema da responsabilidade deve ser colocado em termos complexos. De um lado, cada um deve reconhecer-se responsável por suas pa­lavras, por seus escritos, por seus atos. De outro, tomando como base a ecologia da ação, ninguém é responsável pelo modo como suas palavras são entendidas, como seus escritos são compreen­didos, como seus atos são mal interpretados,distorcidos. Cada um, em suma, é 100% respon­sável e 100% irresponsável. Há uma outra respon­sabilidade, que é oriunda de nossa comunidade de destino planetário. E ela que sempre relembra nossa parcela de responsabilidade nesse destino comum, e não somente no que diz respeito ao pre­sente, mas também ao futuro, como apontou Hans Jonas. Aqui ainda devemos nos sentir responsá­veis - como se a luta por inteiro dependesse uni­camente de nós -, mas também não-responsáveis por todas as barbáries cometidas por inconsciên­cia ou vilania. A ética política deve conter algumas idéias-guia em suas formulações mais prioritárias:
l. A ética da religação
A noção de religação engloba tudo aquilo que faz comunicar, associar, solidarizar, frater-nizar; ela se opõe a tudo o que fragmenta, des­loca, disjunta (corta qualquer comunicação), re­duz (ignorância do outro, do vizinho, do huma­no, egocentrismo, etnocentrismo). A religação deve ser concebida como a religião do que reli-ga, fazendo frente à barbárie que divide (o dia­bo, diabolus, sendo o divisor).


2. A ética do debate
A regra do debate é inerente às instituições filosófica, científica e democrática. A ética do de­bate vai mais longe ainda: exige a primazia da argumentação e a rejeição da anátematização. Longe de descartar a polémica, ela a utiliza, mas rejeita todos os meios vis, todos os julgamentos de autoridade, assim como quaisquer tipos de re­jeições pelo desprezo, quaisquer insultos sobre as pessoas.
3. A ética da compreensão
A compreensão é complementar à explica­ção; esta utiliza os métodos adequados para co­nhecer os objetos enquanto objetos, e tende sem­pre a desumanizar o conhecimento dos compor­tamentos sociais e políticos; a compreensão per­mite conhecer o sujeito enquanto sujeito e tende sempre a reumanizar o conhecimento político. Acrescentemos a isso que a compreensão é ne­cessária a tudo aquilo que possa tornar as rela­ções humanas menos imbecis e ignóbeis.


4. A ética da magnanimidade
Contra a ética atroz da vingança e a ética impiedosa da punição, o que importa é tornar exemplar a ética da magnanimidade. Esta últi­ma, ilustrada em tempos passados pêlos atos so­beranos de clemência, como o de Augusto por Cinna, foi ilustrada em tempos recentes por Vaclav Havei que, quando eleito presidente, afir­mou para seus delatores: "Desde o momento em que me tornei presidente forneceram-me a lista de colegas que haviam me denunciado, mas eu a perdi logo depois do meio dia". Clemência tam­bém foi demonstrada por Nelson Mandela para com os sul-africanos brancos que cometeram ou aprovaram a ignomínia moral do apartheid. O re­torno da barbárie encontra-se claramente eviden­ciado pela renovação do ciclo infernal do ódio impiedoso, que transforma em inimigos todos aqueles que fazem parte de uma mesma etnia, religião, classe, nacionalidade, mantendo ativo o ciclo terrorismo/tortura. O único meio capaz de tentar quebrar esse ciclo infernal é a irrupção da magnanimidade, da clemência, da generosidade, da nobreza.


5. A incitação às boas vontades
Não existe mais nenhuma classe social privi­legiada que seja capaz de cumprir uma missão his­tórica, assim como nenhuma elite que seja porta­dora de um saber verídico. Ao contrário, nossas elites filosóficas, universitárias, científicas, técni­cas não dispõem de uma cultura que lhes permi­ta religar os conhecimentos e enfrentar a incer­teza, mas sim de um saber abstrato, parcelar e mutuante. Por tudo isso é que atualmente não podemos confiar na educação, pois antes de mais nada seria necessário educar os educadores, para que estes pudessem esclarecer os alunos. Por tudo isso, temos que voltar a apelar às boas vontades de todos, a solicitar que se associem entre si para salvar a humanidade do desastre. As boas vonta­des advirão de todos os horizontes e nelas esta­rão incluídos os inquietos, os bastardos, os órfãos, os generosos ...
6. A ética da resistência
A resistência, que constitui a primeira ou a última das éticas para estes tempos de trevas, foi a única resposta possível ao nazismo e ao estalinismo triunfantes, e talvez constitua a única resposta que possa vir a ser dada de imediato à barbárie que se amplia, mesmo no interior de nossa civilização.
O progresso, ética e politicamente indispen­sável, não constitui mais uma necessidade histó­rica; pior que isso, é a regressão bárbara que pa­rece cada vez mais provável. Quanto retrocesso em apenas algumas décadas! Nossa ética da reli-gação, que todos nós pensávamos que fosse se transformar na vanguarda de um movimento histórico planetário, não é e, talvez, não será nada mais do que um pequeno instrumento de resis­tência contra a barbárie...
Mas, de qualquer modo, a resistência às barbáries triunfantes sempre elabora um fermen­to, um germe para o futuro — quando ainda há um futuro.
Em conclusão, a ética não pode reduzir-se ao político, do mesmo modo que o político não pode se reduzir à ética. Não podemos opor esses dois termos de modo absoluto e nem comple-mentarizá-los harmoniosamente. Estamos con­denados à sua dialógica, ou melhor, a manter simultaneamente seu laço indissociável e seu an­tagonismo irredutível. Somente esta dialógica poderá fazer da política, essa arte da incerteza, uma grande arte que seja posta a serviço do ser humano.
Tradução do Prof. Edgard de Assis Carvalho
nota:
l. Este texto integra o ensaio "Da incerteza democráti­ca à ética política", incluído no livro Une politique de civilisation, de Edgar Morin & Sami Nair, Paris, Ed. Arléa, 1997, pp. 157-185. O excerto traduzido encon­tra-se nas pp. 181-185, e o direito de tradução foi gen­tilmente cedido pêlos autores.
 
Edgar Morin é Diretor Emérito do Centre National de Ia Recherche Scien-tifique, co-diretor do Centre D'Études Transdisciplinaires e Presidente funda­dor da Association pour Ia Pensée Com-plexe — com 87 institutos e universida­des associadas no mundo todo. O Prof. Morin é indiscutivelmente um dos pen­sadores mais fecundos e controvertidos da atualidade. Suas obras, mais de ses­senta, já foram publicadas e traduzidas na maioria das línguas ocidentais.