quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Esculturas astecas falam sobre uma guerra cósmica
Um total de 23 placas de pedra, de aproximadamente 550 anos atrás, foram descobertas por arqueólogos na frente do Grande Templo de Tenochtitlan na cidade do México, com esculturas que ilustram os mitos Aztecas, inclusive o nascimento do deus da guerra Huitzilopochtli.
As esculturas em pedra focam não só nos mitos astecas do nascimento de Huitzilopochtli, mas também no início da Guerra Santa.
Raul Barrera, do Instituto Nacional de Antropologia e História disse que as placas foram “colocadas com suas faces apontadas na direção do que era o centro do adoratório de Huitzilopochtli e podem datar da época do quarto estágio da construção do Grande Templo (1440-1469)”
Os astecas eram belicosos e profundamente religiosos, e construíram inúmeros monumentos, inclusive o famoso Templo Mayor, aonde hoje é a Cidade do México. Seu império abrangia muito da parte central do México até que foram expulsos pelos espanhóis em 1521.
Os achados são de grande valor arqueológico, porque esta é a primeira vez que tais peças foram encontradas no solo sagrado de Tenochtitlan e podem ser lidos “como um documento iconográfico que narra certos mitos daquela civilização antiga,” disse Raul Barrera.
A batalha cósmica
De acordo com o mito do nascimento do deus da guerra, a deusa da Terra e Fertilidade, Caotlicue, foi magicamente engravidada por uma bola de penas que caiu sobre ela enquanto estava varrendo um templo, e subsequentemente ela deu a luz aos deuses Quetzalcoatl e Xolotl, bem como Huitzilopochtli. Esta gravidez deixou seus filhos zangados, os quais viam o fato de seu pai ter sido uma bola de penas algo vergonhoso. Assim 400 guerreiros do sul do México e a deusa Coyolxauhqui decidiram subir a montanha Coatepec, onde Coatlicue vivia e matá-la. Porém, Huitzilopochtli sai completamente armado do útero de sua mãe quando ouve a respeito do plano.
A lenda sobre o começo da Guerra Santa cósmica diz que durante a jornada dos guerreiros do sul, de Aztlan até o Lago Texcoco (onde eles encontraram a cidade) guerreiros estelares do norte, chamados de Mimixcoas, desceram dos céus. “Ambos os mitos incluem o conceito de uma guerra estelar, na qual o deus da guerra Huitzilopochtli derrota os 400 guerreiros do sul e Coyolxauhqui; uma guerra que deixou como resultado a lua e as estrelas,” disse o porta voz do INAH.
Uma das placas de pedra mostra um guerreiro estelar carregando seu chimalli (escudo) em uma mão e na outra uma arma que atira dardos, a mesma que Huitzilopochtli usou para conquistar Coyolxauhqui. Outra placa mostra um guerreiro capturado ajoelhado e suas mãos atadas em suas costas. Um exame mais minucioso mostra uma lágrima caindo de seu olho. Outra escultura pré-colombiana mostra o perfil de um homem decapitado usando um cocar elaborado.
Os aztecas construiram um grande templo na Pirâmide de Tenochtitlan em sua honra e é dito que nas cerimônias da conclusão da obra mais de 20.000 sacrifícios humanos foram oferecidos em quatro dias de celebração. As cabeças das vítimas foram amarradas como troféus em uma ‘grande prateleira’ chamada Tzompantli, na vila abaixo do templo.
Fonte: www.pasthorizonspr.com
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Oráculo de Delfos: o umbigo do mundo
Na representação, um pai e seus dois filhos consultam o oráculo por volta de 600 a.C.
Foto: Getty Images
- Voltaire Schilling
- Fonte: Terra
Durante mais de 15 séculos, do nascimento ao fim da cultura grega
antiga, o Oráculo de Delfos, ou templo de Apolo, serviu como local em
que peregrinos vindos das mais diversas latitudes do mundo helênico
consultavam as pitonisas, as sacerdotisas oraculares, para saber qual
seu destino, da sua família ou da sua pátria. Delfos tornou-se um dos
lugares sagrados mais venerados pelos gregos, sendo que suas previsões e
predições tiveram enorme repercussão nos destinos de reis, de tiranos e
de muita outra gente famosa daqueles tempos.
A lenda do Oráculo de Delfos
Querendo medir com exatidão o centro do mundo, Zeus fez com que duas
águias fossem soltas de lugares opostos da Terra. Quando o voo das duas
se cruzou, ali, bem embaixo, o todo-poderoso determinou ser o local do
onfalos, o umbigo do mundo - uma pedra situada nas cercanias do monte
Parnaso. Anunciou a todos, então, que dali ele entraria em contato com
quem desejasse fazer-lhe consultas ou pedir-lhe orientações.
Porém, a região era dominada pela monstruosa Píton, uma cobra
gigantesca que espantava qualquer possibilidade de aproximação. Coube a
Apolo oferecer-se para enfrentar a serpente, representante das forças
primitivas e irracionais, derrotando-a num formidável combate. O deus
vitorioso sepultou os restos do ofídio monstruoso exatamente embaixo do
solo em que se ergueu o templo de Delfos, no golfo de Corinto, local em
que as mensagens de Zeus, por intermédio de Apolo, chegariam aos
interessados.
O templo das previsões
Os peregrinos podiam desembarcar no pequeno porto de Kirrha, ou
ainda chegar por terra, seguindo uma via sacra que os conduzia para o
alto, até as portas do templo de Apolo. No caminho, eles deviam fazer
suas libações na fonte sagrada de Castalla, cujas águas serviam para
purificá-los antes que a entrevista fosse realizada. Encravada na rocha
havia a seguinte frase: "Ao bom peregrino basta-lhe uma gota, ao mau,
nem um oceano poderia lavar a sua mancha".
Era preciso também realizar sacrifícios aos deuses, imolando um
cordeiro ou esganando uma ave antes de lançá-los às brasas. Como a
procura pelas previsões era muita, marcar uma audiência demorava um bom
tempo, obrigando que, com o passar dos anos, outras instalações fossem
construídas para abrigar os visitantes, formando um verdadeiro complexo
de pequenos santuários, habitações e pousadas para acolher aquela gente
toda. Como observara Cícero (De advinationes), não havia povo ou corpo
político conhecido que pudesse dispensar os adivinhos, os arúspices ou
os magos para levar adiante suas empreitadas.
A questão para a qual se desejava uma orientação era firmada numa
tabuinha de argila e, em seguida, levada à uma das sacerdotisas,
chamadas de pitonisas (referência à Píton). Entendida a mensagem, ela
recolhia-se para o interior do templo e, sentada num trípode (um banco
de três pés), começava a aspirar os "vapores divinos" que emanavam das
rachaduras abertas no chão (*).
Dava-se, então, o momento do transe, quando a pitonisa, sob efeito do
"fumo sagrado", começava a dizer coisas sem nexo, palavras cifradas que
aparentemente não tinham nenhum sentido, mas que eram religiosamente
anotadas pelos sacerdotes. Esta linguagem críptica, confusa e
enigmática, ficou conhecida como "sibilina", talvez por ter sido
associada a uma das pitonisas mais famosas chamada Sibila (nome adotado
por várias outras sacerdotisas que a seguiram na função de
intermediárias entre Febo Apolo e os humanos).
Certa ocasião, como uma delas foi sequestrada e violentada, adotou-se
o princípio de somente admitir mulheres maduras, de mais de 50 anos e
que não fossem atraentes para não estimular mais tal tipo de
brutalidade. Não somente o número de pitonisas aumentou, como igualmente
abriram-se locais oraculares em outros sítios escavados nas rochas para
poder, ainda que parcialmente, atender a infindável fila de peregrinos.
É bem possível que a mastigação de folhas de louro por parte delas,
para obter de imediato o transe necessário, fosse igualmente uma maneira
mais rápida delas satisfazerem a clientela que não parava de chegar,
vinda dos quatro cantos da Hélade.
(*) O geólogo americano Jelle Zellinga de Boer afirmou que a zona
do monte Parnaso assenta-se sob uma fratura geológica subterrânea da
qual fluem gases hidrocarburetos e hidrossulfúricos (tais como metano e
etano) que seriam os responsáveis pela revelações em transe das
pitonisas.
Glória e clausura
Estima-se que o oráculo de Delfos tenha começado a funcionar ao fim
do segundo milênio antes de Cristo, isto é, entre 1200 e 1100 a.C.,
tornando-se célebre, entre tantas outras coisas, por ter previsto o fim
do reino da Lídia, e eternizando-se na literatura ocidental ao ser
citado na peça de Sófocles "Édipo Rei", quando informara ao personagem
central de que ele "mataria o pai e se casaria com a própria mãe". Não
houve grega ou grego famoso, naqueles quase mil e quinhentos anos de
prática da vidência, que não lhe fizesse uma visita, tentando averiguar
que futuro os aguardava.
Fazem parte da galeria ilustre uma boa quantidade de generais e
conquistadores, inclusive os comandantes romanos que ocuparam a Grécia
no século II a.C.. Consta que, depois da quase destruição ocorrida no
século VI a.C., quando o templo foi reconstruído com dotações
pan-helênicas, coube ao imperador Nero submeter o oráculo de Delfos e
suas cercanias a um saque que rendeu mais de 500 estátuas levadas
posteriormente para Roma.
O local foi fechado finalmente pelo imperador Teodósio, em 385, por
ocasião da sua campanha antipagã, pois o cristianismo encaminhava-se
para tornar-se a religião oficial do Império Romano e via aquele espaço
oracular como um centro da superstição a ser combatida.
Porém, Delfos já se encontrava em total decadência bem antes de ser
definitivamente enclausurado, naufragando com o declínio do paganismo.
Quando o iconoclasta imperador Juliano, o Apóstata (331-363), mandou
fazer uma consulta ao oráculo, dizem que a resposta enviada a ele pelos
sacerdotes que ainda ali restavam foi: "Diga ao rei isso: o templo
glorioso caiu em ruínas; Apolo já não tem um teto sobre a sua cabeça; as
folhas dos lauréis estão silenciosas, as fontes e arroios proféticos
estão mortos".
Voltaire recomenda:
Michael Wood - The road to Delphi: the life and afterlife of oracle (Farrar Straus & Giroux, 2003, 271 páginas)
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