sábado, 30 de julho de 2016

Arqueólogos revelam 'Game of Tribos' entre índios do Sul no ano 1000 d.C.


REINALDO JOSÉ LOPES - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA - 30/07/2016

Estamos na fronteira entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por volta do ano 1000 d.C. A região Sul do futuro Brasil está sendo conquistado pelos guerreiros antropófagos tupis-guaranis.

Todo o sul do Brasil? Não –chefes habilidosos, ancestrais de grupos como os atuais caingangues, aproveitam a ameaça para consolidar seu poder, unificar tribos antes dispersas sob sua égide e construir monumentos no alto das colinas, mostrando aos invasores sua disposição de resistir até o fim.

Descontado algum exagero épico, é mais ou menos esse é o retrato revelado pelos arqueólogos que estão escavando o interior da região Sul (em especial as áreas de planalto) nos últimos anos. Os dados podem enterrar de vez a ideia de que os habitantes do planalto nessa época, os chamados proto­jês, formavam grupos pequenos e igualitários, com estilo de vida rudimentar e pouco impacto sobre a paisagem.


PROTO­JÊS DO SUL

"A ameaça externa faz com que certas estruturas políticas mais complexas emerjam", resume Jonas Gregorio de Souza, pesquisador brasileiro que é doutorando do Departamento de Arqueologia da Universidade de Exeter (Reino Unido). Junto com colegas como Rafael Corteletti, da Universidade Federal do Paraná, e Mark Robinson, também de Exeter, Souza publicou algumas das conclusões da equipe sobre o tema em artigo recente na revista científica "Journal of Anthropological Archaeology".

MONUMENTOS NO MAPA

Um dos pontos centrais da pesquisa foi o mapeamento detalhado dos locais e das datações dos monumentos da cultura proto­jê, ao qual pertenciam os ancestrais de indígenas como os caingangues e xoclengues modernos ("jê" é o termo usado para designar o grande grupo linguístico ao qual os idiomas dessas tribos atuais pertencem).

Essa análise especial revelou alguns padrões significativos (veja infográfico). Primeiro, a construção de monumentos ganha força por volta do ano 1000 d.C., época que coincide com o aparecimento de artefatos associados à cultura tupi­guarani no território tradicional dos proto­jês. Ao mesmo tempo, as estruturas monumentais –como grandes muros circulares de terra e morros artificiais– concentram-­se nas áreas onde os artefatos das duas culturas rivais não são encontrados juntos, mas onde há apenas cerâmica típica proto­jê.

Acontece que os dados obtidos por etnólogos a partir do século 19, quando as tribos da região já estavam em declínio, mas ainda eram relativamente numerosas, mostram que esse tipo de monumento era dedicado exclusivamente ao enterro das famílias dos chefes, que obtinham seu poder de forma hereditária –coisa relativamente rara entre os indígenas brasileiros. Eles mobilizavam o trabalho de membros de diversas aldeias para a construção dos monumentos e as cerimônias funerárias, além de dominar áreas relativamente extensas –quatro ou cinco grandes chefes dividiam entre si todo o planalto do Rio Grande do Sul, por exemplo.

"O papel central desses chefes, especialmente entre os caingangues, é a liderança na guerra", diz Souza. Por tudo isso, faz sentido que a gênese dos monumentos tenha acontecido justamente quando a chegada dos tupis-guaranis ­ que já tinham se expandido pelo litoral brasileiro e pelos principais rios da bacia do Paraná – colocava em risco o território tradicional proto­jê.

Nas vizinhanças dos monumentos, os pesquisadores têm encontrado tanto fornos de pedra quanto cerâmicas com resíduos de milho. O cereal, quando fermentado, servia para produzir as bebidas alcoólicas nativas, o que indica a realização de grandes festas funerárias no entorno das colinas sagradas.

O interior dos círculos artificiais não abrigava nenhuma estrutura além do sepultamento, que podia ser acompanhado por um pratinho e uma espécie de copo ­ provavelmente oferendas para o morto ilustre. Ao celebrar seus próprios ancestrais por esses meios, os chefes proto­jês provavelmente eram capazes de justificar seu direito ao poder político por meios religiosos.

Uma questão importante que ainda está em aberto é como os tupis-guaranis conseguiram avançar tanto nos territórios da regiões Sul, Sudeste e Nordeste, em especial no litoral. Os dados linguísticos e arqueológicos deixam claro que o lar original desses povos é a Amazônia, provavelmente no entorno de Rondônia. Alguns pesquisadores atribuem essa expansão à ideologia guerreira e antropófaga (na qual o principal objetivo era derrotar e devorar os inimigos), mas outras tribos do Brasil pré­cabralino também valorizavam as proezas bélicas.

Endereço da página:

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/07/1797075­arqueologos­revelam­game­of­tribos­entre­indios­do­sul­no­ano­1000­dc.shtml

terça-feira, 21 de junho de 2016

Feminismo - Outras Palavras

Ao ousar fazer literatura, mulheres contestaram seu lugar social e construíram linguagem própria

Norma Telles
Publicado na edição 113 da Revista História da Biblioteca Nacional - Fevereiro 2015.

Muito antes de existirem grupos feministas organizados – desde a Idade Média – mulheres de letras, em diferentes lugares do Ocidente, procuraram desvendar sua própria história refletindo sobre gênero, tradição, inovação. Sozinhas ou dialogando com contemporâneas e antecessoras, buscavam validação, conhecer seu valor numa comunidade literária. Ao mesmo tempo, havia sempre um lado sombrio nessa tradição feminina que foi se formando. Ela era perturbadora e não triunfalista.

Desde o início da modernidade, e especialmente nos séculos XVIII e XIX, um maior número de autoras trabalhou para destituir a língua dos mecanismos de poder que as constrangiam e para opor-se aos estereótipos culturais. Foram tentativas de operar nas margens ou nas brechas da linguagem que impunha silêncio às mulheres – delas se esperava que fossem maternais e delicadas, que abrissem mão de uma história própria para se dedicarem inteiramente aos seus.

Os anjos do lar se tornavam potência do mal quando não seguiam as regras ou quando pretendiam usurpar atividades e maneiras de viver que não lhes eram atribuídas. Ideias naturalizadas dos gêneros colocaram sempre as mulheres além ou aquém da cultura. Os dons artísticos eram definidos como naturalmente masculinos. Anjos ou demônios, a elas restava o papel de mediadoras, musas ou criaturas. Nunca criadoras.

Quando o discurso sobre a “natureza feminina” se firmava, em paralelo à ascensão da burguesia, muitas mulheres não se deixaram convencer e escreveram, tanto na Europa quanto nas Américas. A posição que ocupavam na sociedade – marcada pela imposição dos padrões de gênero, pela interdição a certas áreas da linguagem e à educação formal superior, além da falta de mobilidade e de independência econômica – lhes permitiu esboçar paisagens diferenciadas.

No século XVIII, Ann Radcliffe tornou-se a autora mais popular e bem paga da Inglaterra. Considerada a inventora da literatura gótica, cria em seus romances protagonistas jovens que são, ao mesmo tempo, vítimas perseguidas por algum homem perverso disfarçado em pele de cordeiro, e também heroínas corajosas. Para Radcliffe, a trama era um pretexto para enviar suas personagens a viagens excitantes sem ofender os padrões vigentes. Capturadas pelos vilões, elas agem, porque são forçadas, mostram capacidade de decisão, de superar a ingenuidade e testar sua própria força física. Em seus romances – como Os Mistérios de Udolfo (1794) e O Italiano (1797) – as mulheres participam de aventuras e perigos que antes as ficções só reservavam aos homens.

No mesmo século, também na Inglaterra, Mary Astell e Lady Mary Montagu foram críticas cáusticas do poder masculino. Escreveram longamente sobre o funcionamento do patriarcado, mesmo sem usar este termo. Astell definiu as mulheres como categoria independente em relação aos homens. Para ela, como para inúmeras mulheres depois, o problema era de acesso à educação: os homens eram educados e negavam educação às mulheres.

Na França, no século XVII, surgiram diversos salões onde mulheres da alta burguesia, ricas e independentes, criticavam a situação feminina na sociedade, defendiam igualdade entre os sexos e o direito ao amor e ao prazer. Ficaram conhecidas como Preciosas e entre elas se destacaram a Marquesa de Rambouillet e Jean de la Forge, que escreveu O círculo das mulheres sábias (1663). Outro grupo publicou, em 1661, O grande dicionário das preciosas de Somaise. Naqueles salões desenvolveu-se uma forma de pensamento próxima ao que denominamos hoje feminismo.

Olympe de Gauges, ao contrário delas, era uma mulher do povo que se fez historiadora, jornalista e revolucionária. Escreveu para o teatro, e também artigos e panfletos que espalhava pela cidade de Paris. Defendia o divórcio e a união livre, fundou clubes de mulheres onde se discutia política e ficou famosa por escrever a Declaração dos Direitos das Mulheres e das Cidadãs – considerando que a Revolução não dera espaço para as mulheres e exigindo direitos iguais. Por ter apoiado o rei e depois os girondinos, pelo que escreveu, foi presa e condenada por Robespierre. Morreu na guilhotina.

Quando chegou à França revolucionária, a inglesa Mary Wollstonescraft, admiradora de Ann Radcliffe e partidária de ideias libertárias, já era uma filósofa e jornalista famosa. Inteligente, sedenta por conhecimento, boa observadora, reformulou várias ideias de sua época, principalmente em relação às mulheres. A conexão que faz entre o pessoal e o político torna seu trabalho instigante até os dias de hoje. Seu livro mais conhecido é Reivindicação dos direitos da mulher (1790).

A obra foi publicada no Brasil por Nísia Floresta, que fez dela uma tradução livre, adequando-a às necessidades locais. Direito das mulheres e injustiça dos homens foi o título escolhido para a adaptação, que foi lançada em 1832 e tornou-se um marco no desenvolvimento de ideias feministas em território brasileiro e fez de Floresta uma pioneira em vários campos, como na escrita e na educação.

Julia Lopes de Almeida dedica-se às diferenças de formação e aos padrões de gênero em Elles e Ellas (1910). Uma das personagens pensa ser uma boneca de carne e osso, só isso, pois sua dependência é motivo de felicidade celebrada por todos ao seu redor, e sua maior pena é pensar essas coisas sem saber articulá-las. Outra personagem comenta que as moças são criadas para mártires ou hipócritas, por isso desenvolvem sentido de inferioridade. Uma terceira diz que os filhos são educados para a liberdade, e as filhas são criadas para os rapazes. A autora constata que os homens tecem a sociedade com malhas de dois tamanhos, grandes para eles e seus pecadilhos, para que saiam e entrem facilmente, e miúdas para os delas.

A conquista do território da escrita foi longa e difícil, assim como não foi fácil romper as paredes da casa-prisão ou da prisão-textual que confinavam as mulheres submetidas a regras rígidas. Para se tornarem escritoras, precisaram superar a defasagem de educação, rever a própria socialização, encontrar um caminho para a linguagem e a atuação no mundo.

A poeta e jornalista Narcisa Amália escreve em O Garatuja, em 1889: “A pena obedece ao cérebro, mas o cérebro submete-se antes ao poderoso influxo do coração; como há de a mulher revelar-se artista se os preconceitos sociais exigem que o seu coração cedo perca a probidade, habituando-se ao balbucio de insignificantes frases convencionais?”. E em outro artigo do mesmo ano: “É sobre a pressão esmagadora da desventura que a poetisa ou a pensadora anima-se a passar da Concepção à Execução – cerrados os olhos para a multidão circundante (...) a fim de evitar a hesitação ou o desfalecimento”.

No poema Cristais Partidos, Gilka Machado – uma das fundadoras do Partido Republicano Feminino (1910) – define que ser mulher é “ficar presa aos grilhões dos preceitos sociais”. Ela expôs com ousadia os anseios das moças, escrevendo poesia erótica na qual buscava delinear não só igualdade política, como a liberdade de desejo: “Teus lábios inquietos/ pelo meu corpo/ acendiam astros.../ e no corpo da mata/ os pirilampos/ de quando em quando,/ insinuavam/ fosforescentes carícias...” (1928). De maneira similar, Maria Benedita Bormann discute, em seus romances, a vida de mulheres que “desvivem-se em carinho e afeto”, e sugere, em Lésbia (1890), que uma alternativa passa pela escrita e pela independência financeira e amorosa.

Ações e artes de mulheres fizeram desmoronar ideias arraigadas desde o início da modernidade sobre os papéis de gênero no Ocidente. Desmancharam verdades tidas como naturais e imutáveis, ampliando o que consideramos relevante em nossa herança cultural.

A literatura escrita por mulheres se mostrou um palimpsesto, porque o desenho de superfície esconde e obscurece significados diversos, profundos, menos acessíveis, menos aceitos socialmente. É uma arte que tanto expressa quanto disfarça as mil influências que informam as vidas e as dissidências que giram em torno das autoras.

Norma Telles é autora de Encantações: escritoras e imaginação literária no Brasil, século XIX (Intermeios, 2012).

Saiba Mais:

GARCIA, Carla C. Breve História do Feminismo. São Paulo: Claridade, 2011.
GILBERT, Sandra M. Rereading women: thirty years of exploring our literary traditions. New York: W.W. Norton, 2011.
MUZART, Zahidé (org.). Escritoras brasileira do século XIX. Florianópolis: Editora Mulheres, 1999.
SHOWALTER, Elaine (ed.). The Feminist Criticism. New York: Pantheon Books, 1985.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Imperialismo no século XIX
por: Prof. Ricardo Viana 


imperialismo ou neocolonialismo do século XIX se constituiu como movimento de domínio, conquista e exploração política e econômica das nações industrializadas europeias (Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Holanda) sobre os continentes africano e asiático.

A partir do final do século XIX (fim de 1800), em plena expansão do capitalismo, as potências industriais do mundo enfrentavam barreiras comerciais que limitavam a venda de produtos industrializados, dificultando novos investimentos.

A solução encontrada foi conquistar novas regiões e novos mercados. Assim poderiam ter acesso a matéria-prima, a mão de obra barata e ampliar o mercado consumidor.

Neocolonialismo

Diferente do colonialismo praticado a partir do século XVI, no neocolonialismo, o povoamento não era importante, prevalecia os domínios territoriais e econômicos. O domínio territorial era feito por meio de intervenção militar. Já o domínio econômico era realizado pela interferência na vida econômica, com a imposição de tratados e acordos favoráveis aos “conquistadores”

Conferência de Berlim

Realizada em 1885, reuniu representantes de 13 países da Europa, além dos EUA, Rússia, Turquia e Japão. Esses países definiram como seria feita a “partilha” dos territórios da África e da Ásia.



A “partilha” da África e da Ásia se deu fundamentalmente no século XIX (pelos europeus), mas, continuou durante o século XX. Os Estados Unidos e o Japão ascenderam industrialmente e exerceram sua influência imperialista na América e na Ásia, respectivamente.

A “corrida” com fins de “partilha” da África e da Ásia, realizada pelas potências imperialistas, aconteceu por três principais objetivos: 1º) a busca por mercados consumidores (para os produtos industrializados); 2º) a exploração de matéria-prima (para produção de mercadorias nas indústrias); 3º) a exploração de mão de obra barata.



Mas como as potências imperialistas legitimaram o domínio, a conquista, a submissão e a exploração de dois continentes inteiros?

Missão Civilizatória

Uma das principais justificativas para o neocolonialismo era a difusão do progresso pelo mundo, que deveria ser um dever das grandes potências. Essa era a “Missão Civilizatória”.

Haviam três justificativas básicas:

1º) A “Raça Branca” era superior a ao “Negro”;
2º) A Fé religiosa tinha que ser o cristianismo;
3º) O desenvolvimento científico alcançado a partir da Revolução Industrial.


A principal hipótese para a legitimação da “Missão Civilizatória” foi a utilização ideológica de teorias raciais europeias provenientes do século XIX. As que mais se destacaram foram o evolucionismo social e o darwinismo social.

O evolucionismo social classificava as sociedades em três etapas evolutivas: 1ª) bárbara; 2ª) primitiva; 3ª) civilizada. Os europeus se consideravam integrantes da 3ª etapa (civilizada) e classificavam os asiáticos como primitivos e os africanos como bárbaros.

darwinismo social se caracterizou como outra teoria que legitimou o discurso ideológico europeu para dominar outros continentes. O darwinismo social compactuava com a ideia de que a teoria da evolução das espécies (Darwin) poderia ser aplicada à sociedade. Tal teoria difundia o propósito de que na luta pela vida somente as nações e as raças mais fortes e capazes sobreviveriam.

A partir de então, os europeus difundiram a ideia de que o imperialismo, ou neocolonialismo, seria uma missão civilizatória de uma raça superior branca europeia que levaria a civilização (tecnologia, formas de governo, religião cristã, ciência) para outros lugares.

Segundo o discurso ideológico dessas teorias raciais, o europeu era o modelo ideal/ padrão de sociedade, no qual as outras sociedades deveriam se espelhar. Para a África e a Ásia conseguirem evoluir suas sociedades para a etapa civilizatória, seria imprescindível ter o contato com a civilização europeia.


Hoje sabemos que o evolucionismo social e o darwinismo social não possuem nenhum embasamento ou legitimidade científica, mas no contexto histórico do século XIX foram ativamente utilizados para legitimar o imperialismo, ou seja, a submissão, o domínio e a exploração de continentes inteiros.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016


Entenda a fundação do Partido Nacional-Socialista de Hitler


Originalmente, o partido nazista se chamou Partido dos Trabalhadores Alemães e surgiu no ano de 1918



Voltaire Schilling

Fonte: www.terra.com.br




Originalmente, o partido nazista denominou-se de Partido dos Trabalhadores Alemães (Deutsches Arbeit Partei, ou DAP), cujo embrião surgira em 7 de novembro de 1918 por iniciativa de Anton Dextler, o serralheiro que convidou Hitler para associar-se à organização. Suas características básicas não deixam duvidas sobre seu compromisso com o chauvinismo, o antissemitismo e o antibolchevismo. Nele, logo se identificaram dois núcleos básicos.

O primeiro desses núcleos era de ordem ideológica, decorrente da adesão dos membros da sociedade Thule (Thule Gesellschaft), uma ordem ocultista exaltadora das virtudes raciais, também chamada de German Order, liderada pelo sumo-sacerdote Dieter Eckhart, um satanista que exerceu forte influência sobre Hitler nos seus anos de ativismo em Munique. Foi ele quem o introduziu nos meios sociais mais elevados da Bavária, assim como também financiou o jornal do partido, o Völkischer Beobachter. (*)



“No começo nós éramos apenas sete homens, hoje a Alemanha inteira nos segue”, dizia Hitler nos comíciosFoto: Getty Images

Ela tinha como símbolo a cruz suástica encimando uma mão numa espada e um dos seus intentos era substituir a Cruz de Cristo pela Cruz Gamada dos supremacistas arianos.

A mitológica Thule era uma espécie de Jardim do Éden dos povos nórdicos, habitada pelos hiperbóreos, super-homens física e mentalmente perfeitos de quem, acreditavam os adeptos, os alemães herdaram suas virtudes maiores.

Fundada em agosto de 1919 pelo aventureiro barão Rudolf von Sebottendor, seus integrantes formavam uma espécie de ‘nobreza sacerdotal’, tendo entre eles como figuras de maior nome o ideólogo Arthur Rosemberg, Max Amann, editor da revista Der Schwarze Korps da SS e quem sugeriu a Hitler dar o titulo de Minha Luta ao seu livro, Rudolf Hess, o secretário particular de Hitler, o professor Karl Haushofer, que sugeriu a Hitler valer-se da cruz suástica como símbolo do partido, o advogado Hans Frank, mais tarde governador-geral da Polônia ocupada, e o economista Gottfried Feder. Todos eles se tornaram personalidades expressivas do regime, dando-lhe alimento ideológico e mitológico.

(*) Consta que Dieter Eckhart teria dito em seu leito de morte: "Sigam Hitler, ele dançará, mas fui eu que chamei a melodia. Eu o iniciei na Doutrina Secreta, abri seus centros de visão e lhe dei os meios para se comunicar com os poderes.” (Trevor Ravenscroft, The Spear of Destiny, p. 91).

Os velhos camaradas


Outro núcleo duro do partido foi composto pelos veteranos de guerra, pelos frontkämpfer, os homens do front, que haviam servido com Hitler nas trincheiras, todos eles inconformados com o cenário do após-guerra e com as humilhações impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, tendo na vingança futura sua razão de viver.

Estavam sempre próximos ao líder desde o tempo em que ele era apenas um agitador paroquial, acompanhando-o nas manifestações de rua, nos comícios e nas atividades de proselitismo e de propaganda, como estavam ao lado dele no episódio do fracassado putsch da cervejaria, ocorrido em 1923, em Munique.

Apoiaram-no igualmente quando ele decidiu acrescentar ao partido a denominação ‘nacional-socialista’, alterando o nome da agremiação para NSDAP (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) assim como na introdução da cruz suástica num círculo branco dentro de uma bandeira vermelha para marcar seu compromisso com a revolução social pretendida.

Hitler sempre os tratou com deferência. Eram os Alte Kameraden, seus ‘velhos camaradas’, com quem fazia questão de partilhar os canecos de cerveja nas ocasiões festivas, como a celebração do levante de 8 de novembro, anualmente comemorada em Munique ou em Nuremberg, ou no registro da ascensão dele ao poder em 30 de janeiro.

Liderados pelo ex-capitão Ernst Röhm, secundado por Heinrich Himmler, futuro chefe da SS, e por Franz Pfeffer von Salomon, o primeiro comandante das SA, além de Otto Wagener e do instável e amotinado Walter Stenes. Todos haviam militado nos corpos-francos (Freierkorps) durante as tentativas revolucionárias de 1918 e 1920, colocando-se ao lado das forças militares e do governo na luta contra a esquerda armada. Quando Hitler gostava de dizer nos comícios que ‘no começo nós éramos apenas sete homens, hoje a Alemanha inteira nos segue’, certamente era a eles a quem se referia.

O uniforme deles surgiu de um modo inesperado, pois se tratava de uma carga de camisas pardas que seriam enviadas às tropas coloniais alemãs da Namíbia, na África, mas que terminaram ficando nos depósitos dos armazéns portuários da Alemanha impedidas de embarcar pela eficácia do bloqueio naval inglês.

A estrutura da organização


Obediente à estrutura hierárquica militar, o partido tinha no Führer sua autoridade máxima, havendo uma subdivisão entre a Secretária-geral, sob comando de Martin Bormann, e a Organização Política, ao encargo do Doutor Robert Ley. Em cada uma das 42 divisões administrativas da república havia um Gauleiter, um líder regional que representava a autoridade do Führer, que, por sua vez supervisionava os lideres distritais (Kreisleiter) e os ramos menores do partido, as células (Kreis) existentes nos bairros, nas fábricas, nos quartéis, nas escolas, nas universidades, nas repartições, etc.

Enquanto a milícia do partido formava os batalhões da SA, os jovens entre 10 e 18 anos, desde 1922, organizados nos moldes do escotismo, dividiam-se entre a Hitlerjügen (inicialmente denominado de Jugendbund der NSDAP, com 2,3 milhões de integrantes, liderada por Baldur Von Schirach, editor da revista Wille zur Macht, a ‘ Vontade de Poder’), e a Deutsche Mädchen. A adesão, que nos começos era voluntária, se tornou compulsória a partir de 1936.

No transcorrer dos anos eles assumiram funções paramilitares e devido ao intenso treinamento militar a que eram submetidos foram colocados como força de reserva, atuando como bombeiros no rescaldo dos bombardeamentos e auxiliando a população a salvar-se dos grandes incêndios depois dos ataques aéreos.

Uma divisão blindada inteira da SS, a 12ª panzer, foi formada com jovens de 16 e 18 anos: a SS Hitlerjügen, com 20.540 soldados, que combateu fanaticamente na Normandia por ocasião do desembarque aliado do Dia-D, em 1944. No final do conflito, 50% deles haviam perecido em combate.

Além disto, o partido abria-se às corporações e associações profissionais. Devido ao seu discurso biologicista, recebeu enorme adesão dos médicos (nos anos 30, 43% dos doutores alemães ingressaram nas fileiras dos nazistas).