terça-feira, 29 de novembro de 2011


 
O Brasil fugiu da escola - “Meninos e meninas tendem a ser alegres e curiosos, em qualquer parte do mundo. Mas, quando as caras feias e brigas se repetem, impedindo a felicidade do jogo de ensinar e aprender, a inocência do riso satisfeito com o mundo, algo está muito errado e preocupante. Nosso futuro encontra-se em situação de vulnerabilidade e risco. À revelia da classe professoral, muitos dos alunos teimam em não aprender e insistem em carnavalizar a aula, outrora sagrada”, ressalta o professor doutor Sérgio Kodato, autor de "O Brasil fugiu da escola".
Com a intenção de sensibilizar o leitor e engajá-lo no ideal que abraçou – a atualização e o aprimoramento do ensino público –, Kodato optou por uma abordagem direta, elencando observações a partir do que ocorre nas salas de aula, onde um número excessivo de alunos recebe educação deficiente, ministrada por professores mal remunerados e, na maior parte das vezes, desmotivados e despreparados para o exercício da profissão. Certo das potencialidades do ser humano – alheias à sua condição étnica ou social –, Kodato retrata, em "O Brasil fugiu da escola", a ausência de diretrizes e práticas voltadas para o seu despertar, ao mesmo tempo em que aponta soluções para revitalizar a vida escolar.
 
Sérgio Kodato - Graduado em Psicologia, mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Professor doutor no campus da USP de Ribeirão Preto (SP), é docente.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cientistas acham nova referência maia ao 'fim do mundo' em 2012

Cientistas acham nova referência maia ao 'fim do mundo' em 2012


Texto foi encontrado no templo de Comalcalco . Foto: Divulgação Texto foi encontrado no templo de Comalcalco
Foto: Divulgação

Arqueólogos mexicanos descobriram a segunda referência ao "fim do mundo" que teria sido previsto pelos maias e que ocorreria em 2012. Até agora, especialistas afirmavam que havia apenas um achado que mostrava o fim do calendário do povo antigo. As informações são da agência AP.


Em um comunicado, o Instituto Nacional de Arqueologia do México anuncia um debate sobre o assunto e admite existir uma segunda referência ao fim do calendário, um tijolo descoberto no templo de Comalcalco. O achado, afirma Arturo Mendez, representante do instituto, foi descoberto há alguns anos e foi submetido a um estudo completo, mas está guardado e não é exibido ao público.
Contudo, entre os cientistas, há dúvida se o objeto realmente tem relação com o "fim do mundo" maia. "Alguns propuseram que é outra referência a 2012, mas eu não estou nem um pouco convencido", diz à agência David Stuart, especialista em epigrafia maia da Universidade do Texas.
A data no texto descoberto bateria com o fim do 13º Baktun - ciclo maia que se encerraria em 21 de dezembro de 2012. Contudo, Stuart diz que pode corresponder apenas a alguma data similar no passado. "Não há razão para não achar que possa também ser uma data antiga, descrevendo algum evento histórico importante no período Clássico. Na verdade, o terceiro glifo no tijolo aparentemente deve ser lido como o verbo 'huli', 'ele/ela chega'", diz o pesquisador.
"Não há verbo no futuro (ao contrário da inscrição de Tortuguero - a primeira descoberta), o que, do meu ponto de vista, coloca a data de Comalcalco mais como uma referência histórica do que profética", afirma o cientista.
Ambas as inscrições - Tortuguero e o tijolo de Comalcalco - teriam sido criadas aproximadamente há 1,3 mil anos atrás. A primeira descreve algo relacionado ao deus Bolon Yokte (associado à guerra e à criação) em 2012, mas erosão e um rachado na pedra impedem a leitura do final da passagem, mas alguns cientistas acreditam que diga "ele irá descer dos céus". Ainda de acordo com a agência, no texto de Comalcalco os símbolos estariam invertidos ou cobertos com estuque, o que indicaria - por quem o escreveu - que eles não devem ser vistos.
O instituto mexicano afirma que a ideia de fim do mundo em 2012 é apenas uma interpretação mal feita do calendário maia. Segundo os arqueólogos mexicanos, o tempo para o povo antigo era divido em longos ciclos e o texto de Tortuguero apenas indica o fim de uma era e o começo de outra.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Confusão entre público e privado é uma das principais causas do caos urbano

Fábio de Castro, especial para a Agência USP

Socióloga demonstra em estudo sobre o comportamento no trânsito que ambiente coletivo é hostil devido a fatores como a cidadania precária do brasileiro e a tendência mundial de privatização do espaço público

Um estudo sobre o comportamento no trânsito da cidade de São Paulo revelou, entre outras conclusões, que a atitude geral das pessoas, baseada em noções privatizadoras do espaço público, é um fator que contribui decisivamente para o caos urbano.

Para saber como as pessoas se portavam no trânsito, a socióloga Alessandra Olivato realizou uma série de entrevistas com usuários do trânsito, divididos em cinco categorias: pedestres, motoboys e motoristas de carros, ônibus e táxis. A pesquisa foi a base de sua dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

"Eu pretendia estudar o espaço público e logo no início percebi que um dos campos de pesquisa mais reveladores deste tema era o trânsito nas metrópoles", explica. Durante três meses ela gravou entrevistas qualitativas (com respostas não estimuladas) de cerca de quarenta minutos em diversos pontos da cidade de São Paulo.

As perguntas básicas tratavam de como cada um via a si mesmo no trânsito, enquanto motorista ou pedestre, como viam os outros, como percebiam as leis e as autoridades, como concebiam o trânsito e como se sentiam nele.

"Depois de transcritas e analisadas, as entrevistas levaram a três conclusões principais: não existe uma noção clara de espaço público no trânsito, com as pessoas tratando a coisa pública como privada; expressa-se um individualismo provavelmente derivado de que a luta individual pela sobrevivência, no mundo atual, contribui para dificultar a compreensão do que é do outro; e, justificando a ausência de um sentimento de responsabilidade pelo coletivo, não há uma idéia generalizada da direção defensiva cuja premissa é prever o que acontecerá no trânsito", diz Alessandra.

Segundo ela, a primeira conclusão corrobora teorias clássicas da sociologia brasileira segundo as quais existe uma confusão entre o espaço público e o privado no país. "Junta-se um fator histórico nacional com a tendência mundial de privatização do espaço público. O resultado é que cada um tem seu motivo pessoal para não respeitar as leis e a organização coletiva. Considera-se injustas as leis, representadas pelos fiscais do trânsito, que não entende o motivo particular de cada um para burlá-la", resume.

Lugar do cidadão
A pesquisadora define "espaço público" como "o lugar do cidadão". Mas as entrevistas revelam uma noção de cidadania precária. "Temos um sentimento negativo com relação a ser cidadão. Quando estamos no espaço público temos um atitude de confronto e competição."

Para Alessandra, a noção de que no trânsito todos são cidadãos e por isso devem se respeitar e zelar pelo bem comum é dificultada pela conjunção entre uma moral privada e o surgimento de "muros invisíveis" entre as pessoas. Essa barreira é resultado de um novo individualismo, caracterizado pela sensação generalizada de que cada um é o único responsável por si.

A pesquisa levou também à conclusão de que não existe uma noção de direção defensiva. Nessa lógica, cruzam-se os sinais vermelhos e causam-se acidentes, dando-se depois a desculpa de que não foi possível prever o que aconteceria. "A formação do motorista ainda é majoritariamente técnica. Não se aprende noções de civilidade que englobe a percepção do espaço público."

Alessandra destaca que na interpretação dos dados obtidos nota-se que o pedestre, por exemplo, é visto como um obstáculo, já que o trânsito é um local de passagem que é preciso transpor o mais rápido possível. As leis são lembradas pela maioria apenas como fator coercitivo, quando há a presença de autoridades, radares ou placas. "A percepção da maioria é de que a lei é injusta. A lei não funciona como princípio máximo e sempre há um motivo pessoal que justifique a inocência do infrator."

A pesquisa revelou ainda que poucos motoristas dizem fazer esforço para "respeitar o próximo" e "não causar acidentes". "Os poucos que disseram fazer tal esforço não o vêm como atitude de civilidade. Dizem agir corretamente porque têm uma boa educação familiar ou por características pessoais. O respeito é fruto de um extremo sacrifício pessoal e não de atitude própria de convivência no espaço público."

Segundo a socióloga, especialistas garantem que o fator humano é responsável por cerca de até 90% dos acidentes de trânsito. "A intenção do trabalho foi discutir o trânsito por meio do fator humano. Estudar o problema empírico, mas avaliando a contribuição do motorista para a situação caótica, além de avaliar a percepção do espaço público e civilidade".

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ocupação patética, reação tenebrosa

Matheus Pichonelli

09.11.2011 11:57

Ao que tudo indica, a ocupação da reitoria da USP foi de fato patrocinada por um grupo de aloprados, que atropelou o rito das assembleias realizadas até então e, num ato de desespero (calculado?), fez rolar morro abaixo uma pedra que, aos trancos, deveria ser endereçada para pontos mais altos da discussão.
A tropa de choque entra em ação, a sociedade aplaude. Foto: Milton Jung/Flickr

Uma vez que essa pedra rolou, como se viu, tudo desandou. Absolutamente tudo, o que se nota pela declaração do ministro-candidato-a-prefeito (algo como: bater em viciado pode, em estudante, não) e do governador (vamos dar aula de democracia para esses safadinhos), passando pela atitude da própria polícia (tão aplaudida como o caveirão do Bope que arrebenta favelas), de cinegrafistas (ávidos por flagrar os “marginais” de camiseta GAP) e de muitos, mas muitos mesmo, cidadãos que só esperavam o ataque aéreo dos japoneses em Pearl Harbor para, em nome da legalidade, arremessar suas bombas atômicas sobre Hiroshima.

O episódio, em si isolado, é sintomático em vários aspectos. Primeiro porque mostra que, como outros temas-tabus (questão agrária, aborto…), a discussão sobre a rebeldia estudantil é hoje um convite para o enterro do bom senso. O episódio foi, em todos os seus atos, uma demonstração do que o filósofo e professor da USP Vladimir Safatle chama de pensamento binário do debate nacional – segundo o qual a mente humana, como computadores pré-programados, só suporta a composição “zero” ou “um”. Ou seja: estamos condicionados a um debate que só serve para dividir os argumentos em “a favor” ou “contra”, “aliado” ou “inimigo”.

De um lado, uma minoria de estudantes que, sim, usa a universidade para o que há de pior na vida pública, como politicagem e ignorância sobre noções básicas de convivência; e que, queira ela ou não, atrai uma nuvem de antipatia dentro da comunidade acadêmica e da opinião pública que contamina qualquer avanço ou reivindicação séria, legítima e bem costurada pelos estudantes de fato.

Do outro, uma parcela da opinião pública que jamais suportou qualquer sinal de organização política – seja estudantil, sindical, partidária – e que viu no episódio um pretexto para colocar as garras de fora, cuspir sua raiva e taxar os estudantes, qualquer um que fosse contra a presença da PM no campus, de baderneiro, vagabundo, privilegiado, filhinho de papai, maconheiro e inútil. Porque bater em estudante com o argumento de que não trabalha e, sob as asas dos pais, ainda não sabe como a vida prática é dura é o mais fácil e covarde dos argumentos (como se só os pais de família, que pagam impostos e vão à missa, reunissem as condições necessárias para se graduar em cidadania para reclamar da vida).
Cerca de 500 estudantes protestaram contra a detenção de colegas. Foto: Natália Natarelli

A ocupação da reitoria da maior universidade do País deu munição para que boa parte da opinião pública (inclusive estudantes) testemunhasse, graças à transmissão ao vivo das emissoras, a legitimação de seus desprezos contra estudantes que, diferentemente deles, ainda ousam apontam o dedo para o alto e dizer que alguma coisa está errada.

Originários de uma multidão crescida sob o mito do self made man (“minhas conquistas são fruto do meu próprio trabalho, e o Estado muito ajuda quando não me atrapalha”), muitos usaram canais de manifestação, como as redes sociais, para despejar os argumentos mais covardes contra todo (todo mesmo) universo estudantil, sobretudo o sistema público de ensino, do “bem feito” ao “viva a legalidade”. Como se os ritos democráticos tivessem sido respeitados desde o começo, quando o então governador José Serra (PSDB) decidiu justamente desprezar a vontade da comunidade acadêmica e nomear João Grandino Rodas, o segundo candidato mais votado, para o cargo. Como se fosse legítimo, também, determinar, de cima para baixo, que a Polícia Militar transferisse para o campus o seu modus operandi. Hoje a bronca, gota d’água de toda a crise, foi por não se poder fumar maconha em paz – sim, é uma discussão menor num país de tantos problemas; sim, pode revelar um desnecessário privilégio a um grupo que não é inimputável; mas sim (e é bom lembrar), existe, e não só na comunidade estudantil, uma questão em torno da descriminalização da droga, que é aceita inclusive em marchas na Paulista.
A praça do relógio, símbolo da cidade universitária. Foto: Vismar

Mas, em meio às manifestações contrárias aos invasores (que, sim, sabem o que fazem e não poderia descumprir decisão judicial), o que mais estranha não é ver senhores engravatados, os tais cidadãos que trabalham e pagam impostos, pedindo punição exemplar aos “aloprados”. Estes estão preocupados demais em manter o estado das coisas exatamente como está: assim como a polícia é útil na saída da favela, é útil também que ela tome conta de qualquer, mas qualquer mesmo, insurgência estudantil. Para a reitoria, o governador e os empresários que querem se apropriar do espaço público para obter lucros privados, parece mais que óbvio o interesse em deslegitimar não só ocupações estapafúrdias, como foi o caso, mas também esmagar a voz, quiçá para sempre, do movimento estudantil. (“Já pensou se eles, como os sem-terra, em vez de se dividir, resolvem se unir para ir às ruas, pedir condições melhores de vida e de trabalho e, mais tarde, entram no mercado do trabalho já contaminados com ideias subversivas, entre elas a de que a vida não se resume a dinheiro?”).
Força Tática em frente a reitoria. Foto: Milton Jung/Flickr

O que é estranho dessas reações todas de ojeriza aos uspianos é que elas partem de quem muito cedo na vida já se apropriou do discurso dos pais, criados num clima de “Brasil: Ame-o ou Deixo-o” herdado do regime militar; e que, portanto, veem na obediência, no não-engajamento, na docilidade, na adaptação a um mundo já pronto o único caminho possível para salvar as próprias peles em um jogo arbitrário de saída. Tenho, para isso, uma tese de botequim: a de que minha geração, nascida em meados dos anos 80 e criada nos 90, foi o maior baby boom de bundões que o Brasil já testemunhou; crescemos com medo da violência, das doenças sexualmente transmissíveis e do outro (do favelado ao muçulmano) e, por este motivo, decidimos nos enclausurar em bolsões de segurança (o shopping, a escola particular e os condomínios fechados) para poder nascer e morrer em paz, sem grandes objetivos na vida a não ser aceitá-la. Por isso aceitamos abrir mão de uma relativa liberdade (porque ela nunca é absoluta) para viver em segurança. E se amanhã algum policial resolver matar algum suspeito (ela chama de “meliante”) entre uma aula e outra na FFLCH ou na FEA, paciência, bola pra frente. Faz parte do jogo. Em nome da segurança, aceitamos a diferença de forças em jogo: estudante, quando alopra, compra cerveja e depreda a reitoria; policial, quando alopra, atira. (Em tempo: nem todos os policiais abusam, como nem todos os estudantes invadem; mas a diferença dos estragos proporcionados entre os que, por lei, detêm o monopólio da violência e os que não o detêm é abissal).

O caso de um aluno da faculdade de ciências sociais – curso visto por parte da elite paulista como ponto de irradiação de tumulto tal qual uma ogiva de Mahmoud Ahmadinejad – exemplifica a situação criada com a simples presença da PM no campus: em menos de um ano, já foi abordado cinco vezes por policiais.

Suspeito de quê não se sabe, e não está cientificamente provada se há perseguição pelo fato de ser negro, mas uma amiga dele, branca, relata: já ouviu de um policial que poderia ser liberada porque não tinha o “perfil” de marginal.
Policiais prendem estudantes que ocupavam reitoria da USP. Foto: Milton Jung/Flickr

Uns aceitam a situação. Outros, pelos métodos certos ou não, resolveram deixar claro que não aceitam.

Tudo isso me leva a dizer que eu nutria uma simpatia, ainda que leve, levíssima, aos ingênuos invasores que erraram a hora pensando que faziam história – até começarem a agredir os repórteres que estavam lá para ouvi-los. Mesmo assim, ainda parecem ser mais interessantes do que os coxinhas que, vestidos como os pais, esquecem que um dia foram estudantes e que um dia também pensaram que poderiam mudar o mundo. Hoje, engolem lama, agradecem quando lhe chutam as cabeças e dormem pensando ser coerentes aos seus princípios. Ou, como na música, “caminham para a morte pensando em vencer na vida”.

Critique-se o quanto quiser a partidarização de parte do movimento, mas são os estudantes os agentes de uma história que ainda somam coragem e disposição para se organizar e promover discussões e manifestações que, via de regra, apontam caminhos não observáveis por quem, a olhos nus, está atolado nas funções diárias da divisão social do trabalho. O empregado tem medo da greve e de perder o emprego; o patrão tem medo de perder o lucro; o governador, o medo de perder poder. Mas os estudantes estão, em tese, livres das amarras que os impediriam de simplesmente optar por outros caminhos. Isso não deveria ser vergonhoso, nem apontado como privilégio.

O fato é que o rótulo (e a imagem do invasor vestindo GAP) pegou bem aos que tem alergia a organizações sociais. Legalidade, insegurança, hipocrisia, racismo, perseguição (ou mania de), erros táticos, partidarização, elitização do ensino, espetacularização da notícia, truculência, tensão…São muitos os ingredientes que fazem do confronto entre estudantes e reitoria/governo paulista um tema complexo, que não poderia jamais descambar para o Fla-Flu. Mas descambou, graças à ação desastrada de um grupo que, agora, se coloca como “perseguidos políticos” – e virou tema de piada, ou pólvora pura, para um galão de gasolina reservado por quem nunca deu a mínima para ideias como coletividade, bom senso e democracia.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Exposição arqueológica sobre os Maia em Bogotá

Exposição arqueológica sobre os Maias em BogotFim do mundo previsto pelos maias é um erro de interpretação



 
O prognóstico maia do fim do mundo foi um erro histórico de interpretação, segundo revela o conteúdo da exposição "A Sociedade e o Tempo Maia" inaugurada recentemente no Museu do Ouro de Bogotá.

O arqueólogo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH) e um dos curadores da mostra, Orlando Casares, explicou à Agência Efe que a base da medição do tempo desta antiga cultura era a observação dos astros.

Eles se baseavam, por exemplo, nos movimentos cíclicos do sol, da lua e de Vênus, e assim mediam suas eras, que tinham um princípio e um final.

"Para os maias não existia a concepção do fim do mundo, por sua visão cíclica", explicou Casares, que esclareceu: "A era conta com 5.125 dias, quando esta acaba, começa outra nova, o que não significa que irão acontecer catástrofes; só os fatos cotidianos, que podem ser bons ou maus, voltam a se repetir".

Para não deixar dúvidas, a exposição do Museu do Ouro explica o elaborado sistema de medição temporal desta civilização.

"Um ano dos maias se dividia em duas partes: um calendário chamado 'Haab' que falava das atividades cotidianas, agricultura, práticas cerimoniais e domésticas, de 365 dias; e outro menor, o 'Tzolkin', de 260 dias, que regia a vida ritualística", acrescentou Casares.

A mistura de ambos os calendários permitia que os cidadãos se organizassem. Desta forma, por exemplo, o agricultor podia semear, mas sabia que tinha que preparar outras festividades de suas deidades, ou seja, "não podiam separar o religioso do cotidiano".

Ambos os calendários formavam a Roda Calendárica, cujo ciclo era de 52 anos, ou seja, o tempo que os dois demoravam a coincidir no mesmo dia.

Para calcular períodos maiores utilizavam a Conta Longa, dividida em várias unidades de tempo, das quais a mais importante é o "baktun" (período de 144 mil dias); na maioria das cidades 13 "baktunes" constituíam uma era e, segundo seus cálculos, em 22 de dezembro de 2012 termina a presente.

Com esta explicação querem demonstrar que o rebuliço espalhado pelo mundo sobre a previsão dos maias não está baseado em descobertas arqueológicas, mas em erros, "propositais ou não", de interpretação dos objetos achados desta civilização.

De fato, uma das peças-chave da mostra é o hieróglifo 6 de Tortuguero, que faz referência ao fim da quinta era, a atual, neste dezembro, a qual se refere à vinda de Bolon Yocte (deidade maia), mas a imagem está deteriorada e não se sabe com que intenção.

A mostra exibida em Bogotá apresenta 96 peças vindas do Museu Regional Palácio Cantão de Mérida (México), onde se pode ver, além de calendários, vestimentas cerimoniais, animais do zodíaco e explicações sobre a escritura.

Para a diretora do Museu do Ouro de Bogotá, Maria Alicia Uribe, a exibição desta mostra sobre a civilização maia serve para comparar e aprender sobre a vida pré-colombiana no continente.

"Interessa-nos de alguma maneira comparar nosso passado com o de outras regiões do mundo", ressaltou Maria sobre esta importante coleção de arte e documentário.

A exposição estará aberta ao público até o dia 12 de fevereiro de 2012, para depois deve ser transferida para a cidade de Medellín.

Fonte: Yahoo